41 Velhos Amigos e Novas Ameaças

De volta à Bênção da Rainha, Rand se jogou contra o batente da porta da frente, ofegante. Correra o caminho inteiro, sem se importar se alguém veria que ele estava usando o vermelho, nem se usariam sua corrida como uma desculpa para persegui-lo. Achava que nem mesmo um Desvanecido poderia tê-lo alcançado.

Lamgwin estava sentado em um banco ao lado da porta, com um gato rajado nos braços, quando ele apareceu correndo. O homem se levantou para ver se havia algum problema na direção da qual Rand vinha, ainda coçando calmamente as orelhas do gato. Como não viu nada, voltou a se sentar, tomando cuidado para não perturbar o animal.

— Uns idiotas tentaram roubar alguns dos gatos agora há pouco — disse. Examinou os nós dos dedos antes de voltar a fazer carinho no gato. — Gatos dão um bom dinheiro hoje em dia.

Os dois homens da facção branca ainda estavam do outro lado, Rand viu, um deles com um olho roxo e o maxilar inchado. Com uma expressão de rancor, ele esfregava o cabo da espada enquanto observava a estalagem.

— Onde está Mestre Gill? — perguntou Rand.

— Biblioteca — respondeu Lamgwin. O gato começou a ronronar, e ele sorriu. — Nada perturba um gato por muito tempo, nem mesmo alguém tentando enfiá-lo num saco.

Rand entrou apressado, passando pelo salão, com a quantidade costumeira de homens de vermelho falando enquanto bebiam sua cerveja. Sobre o falso Dragão, e se os Mantos-brancos dariam trabalho quando ele fosse levado para o norte. Ninguém dava a mínima para o que aconteceria com Logain, mas todos sabiam que a Filha-herdeira e Lorde Gawyn estariam viajando no grupo, e nenhum homem ali toleraria que eles corressem qualquer risco.

Encontrou Mestre Gill na biblioteca, jogando pedras com Loial. Havia uma gorda gata malhada em cima da mesa, as patas enfiadas debaixo do corpo, observando as mãos deles se moverem sobre o tabuleiro quadriculado.

O Ogier colocou outra pedra com um toque estranhamente delicado para seus dedos grossos. Balançando a cabeça, Mestre Gill aproveitou a desculpa da aparição de Rand para se afastar da mesa. Loial quase sempre vencia nas pedras.

— Eu estava começando a ficar preocupado com você, rapaz. Achei que você pudesse ter se metido em encrenca com alguns daqueles traidores de branco, dado de cara com aquele mendigo ou algo assim.

Por um momento Rand ficou ali parado, boquiaberto. Ele havia se esquecido completamente daquele trapo humano.

— Eu o vi — disse finalmente. — Mas isso não foi nada. Vi a Rainha também, e Elaida; e é aí que está o problema.

Mestre Gill sufocou uma gargalhada, e acabou soltando o ar pelo nariz.

— A Rainha, é? Não diga. Há mais ou menos uma hora, estávamos com Gareth Bryne aqui no salão, disputando queda de braço com o Senhor Capitão Comandante dos Filhos, mas a Rainha… Isso sim é impressionante.

— Sangue e cinzas! — grunhiu Rand. — Todo mundo acha que eu estou mentindo hoje. — Jogou o manto nas costas de uma cadeira e caiu sentado em outra. Estava agitado demais para se recostar. Ficou na ponta da cadeira, enxugando o rosto com um lenço. — Eu vi o mendigo, e ele me viu, e eu pensei… Isso não é importante. Subi num muro que cercava um jardim, de onde eu podia ver a praça na frente do Palácio, para onde levaram Logain. E caí lá dentro.

— Eu quase acredito que você não esteja brincando — disse o estalajadeiro devagar.

Ta’veren — murmurou Loial.

— Ah, foi assim que aconteceu — disse Rand. — Que a Luz me ajude, foi assim mesmo.

O ceticismo de Mestre Gill foi derretendo lentamente enquanto Rand prosseguia, transformando-se em um alarme silencioso. O estalajadeiro foi se inclinando cada vez mais para a frente até estar empoleirado na ponta de sua cadeira igual a Rand. Loial escutava impassivelmente, mas com frequência esfregava o nariz enorme, e os tufos de pelos das orelhas estremeciam um pouco.

Rand contou tudo que acontecera, tudo menos o que Elaida lhe havia sussurrado. E o que Gawyn dissera no portão do Palácio. Na primeira, ele não queria pensar; a segunda não tinha nada a ver com nada. Eu sou filho de Tam al’Thor, ainda que não tenha nascido nos Dois Rios. Eu sou! Eu tenho sangue dos Dois Rios, e Tam é meu pai.

Subitamente percebeu que havia parado de falar, perdido em seus pensamentos, e eles o estavam encarando. Por um instante de pânico, perguntou-se se havia falado demais.

— Bem — disse Mestre Gill —, vocês não podem mais esperar pelos seus amigos. Terão de deixar a cidade, e depressa. Em dois dias, no máximo. Você vai conseguir fazer Mat se levantar nesse tempo, ou é melhor eu chamar a Mãe Grubb?

Rand lançou-lhe um olhar perplexo.

— Dois dias?

— Elaida é a conselheira da Rainha Morgase, logo depois do Capitão-general Gareth Bryne em pessoa. Quem sabe até à frente dele. Se ela puser os Guardas da Rainha à sua procura… e Lorde Gareth não a deterá a menos que ela interfira com as outras tarefas dele… bem, os Guardas podem vasculhar cada estalagem de Caemlyn em dois dias. E isso se considerarmos que um acaso infeliz não os traga aqui no primeiro dia, ou na primeira hora. Talvez haja algum tempo se eles começarem na Coroa e Leão, mas não há tempo a perder.

Rand assentiu devagar.

— Se eu não conseguir tirar Mat daquela cama, o senhor chama a Mãe Grubb. Ainda tenho um pouco de dinheiro. Talvez seja o bastante.

— Eu me viro com a Mãe Grubb — disse o estalajadeiro, impaciente. — E suponho que possa emprestar a vocês uns dois cavalos. Experimentem ir para Tar Valon caminhando e vão gastar o que restou de suas botas no meio do caminho.

— O senhor é um bom amigo — disse Rand. — Parece que não lhe trouxemos nada a não ser encrenca, mas o senhor ainda assim está disposto a nos ajudar. Um bom amigo.

Mestre Gill pareceu constrangido. Deu de ombros, pigarreou e olhou para baixo. Isso fez com que seus olhos voltassem ao tabuleiro de pedras, e ele os desviou novamente. Loial estava definitivamente vencendo.

— Sim, bem, Thom sempre foi um bom amigo para mim. Se ele está disposto a fazer um esforço extra por vocês, eu também posso fazer alguma coisa.

— Eu gostaria de acompanhá-lo quando você partir, Rand — disse Loial subitamente.

— Achei que isso já estivesse resolvido, Loial. — Ele hesitou… Mestre Gill ainda não conhecia a extensão do perigo… e então acrescentou: — Você sabe o que aguarda a Mat e a mim, o que está nos perseguindo.

— Amigos das Trevas — respondeu o Ogier, num ribombo plácido —, e Aes Sedai, e sabe a Luz mais o quê. Ou o Tenebroso. Você está indo para Tar Valon, e lá há um bosque muito bonito, do qual ouvi dizer que as Aes Sedai cuidam bem. De qualquer maneira, há mais coisas a ver no mundo que os bosques. Você é realmente ta’veren, Rand. O Padrão se tece ao seu redor, e você está no coração dele.

Este homem está no coração de tudo. Rand sentiu um frio na espinha.

— Eu não estou no coração de nada — disse, ríspido.

Mestre Gill piscou, e até mesmo Loial pareceu espantado com sua raiva. O estalajadeiro e o Ogier se entreolharam, e depois voltaram os olhos para o chão. Rand forçou a expressão em seu rosto a se suavizar, respirando bem fundo. Para sua própria surpresa, encontrou o vazio que havia fugido dele tantas vezes ultimamente, e recuperou a calma. Eles não mereciam sua raiva.

— Você pode vir, Loial. Não sei por que você quer isso, mas eu gostaria da sua companhia. Você… você sabe como Mat está.

— Eu sei — disse Loial. — Ainda não posso ir à rua sem atrair uma multidão gritando “Trolloc” atrás de mim. Mas Mat, pelo menos, usa apenas palavras. Ele não tentou me matar.

— É claro que não — disse Rand. — Não Mat. Ele não iria tão longe. Não Mat.

Ouviram-se batidas à porta, e uma das empregadas, Gilda, enfiou a cabeça dentro do aposento. Sua boca estava contraída, e os olhos, cheios de preocupação.

— Mestre Gill, venha depressa, por favor. Há Mantos-brancos no salão.

Mestre Gill deu um pulo, soltando um impropério, o que fez a gata pular da mesa para sair do aposento, a cauda erguida, ofendida.

— Estou indo. Corra e diga a eles que estou chegando, e depois saia do caminho deles. Você me ouviu, garota? Fique longe deles. — Gilda balançou a cabeça afirmativamente e desapareceu. — É melhor você ficar aqui — disse a Loial.

O Ogier bufou, um som que lembrou o de lençóis rasgando.

— Não tenho nenhum desejo de me encontrar novamente com os Filhos da Luz.

Os olhos de Mestre Gill recaíram sobre o tabuleiro de pedras, e seu ânimo pareceu melhorar.

— Parece que vamos ter de reiniciar o jogo mais tarde.

— Não há necessidade. — Loial esticou o braço para as prateleiras e pegou um livro; suas mãos faziam o volume encadernado parecer minúsculo. — Podemos retomar de onde o tabuleiro está. É sua vez.

Mestre Gill fez uma careta.

— Se não é uma coisa, é outra — resmungou ao sair com pressa do aposento.

Rand o seguiu, mas devagar. Não desejava se envolver com os Filhos mais do que Loial. Este homem está no coração de tudo. Ele parou na porta do salão, de onde podia ver o que estava acontecendo, mas distante o suficiente para, assim esperava, não ser notado.

Um silêncio de morte tomava conta do salão. Cinco Mantos-brancos encontravam-se de pé no meio do aposento, sendo escrupulosamente ignorados pelas pessoas nas mesas. Um deles trazia o relâmpago prateado de um suboficial sob o sol radiante em seu manto. Lamgwin estava recostado contra a parede ao lado da porta da frente, limpando, concentrado, as unhas com uma lasca de madeira. Mais quatro dos guardas que Mestre Gill havia contratado estavam espaçados ao longo da parede, todos diligentemente não prestando qualquer atenção nos Mantos-brancos. Se os Filhos da Luz notaram algo, não deram sinal. Apenas o suboficial demonstrava qualquer emoção, batendo impacientemente as manoplas com dorso de aço na palma da mão enquanto esperava pelo estalajadeiro.

Mestre Gill atravessou o salão até ele rapidamente, um olhar cautelosamente neutro no rosto.

— A Luz o ilumine — disse, fazendo uma mesura cuidadosa, não muito profunda, mas não leve o bastante para ser insultante — e à nossa boa Rainha Morgase. Como posso ajudar…

— Não tenho tempo para essas suas bobagens, estalajadeiro — disse o suboficial, grosseiro. — Já estive em vinte estalagens hoje, um chiqueiro pior que o outro, e verei mais vinte antes que o sol se ponha. Estou procurando Amigos das Trevas, um garoto dos Dois Rios…

O rosto de Mestre Gill foi ficando mais vermelho a cada palavra. Ele bufava como se fosse explodir, e finalmente o fez, cortando o Manto-branco.

— Não há nenhum Amigo das Trevas no meu estabelecimento! Todo homem aqui é um bom homem da Rainha!

— Sim, e todos nós sabemos de que lado Morgase está — o suboficial distorceu o nome da Rainha com desprezo —, assim como a bruxa de Tar Valon, não é?

O barulho de pés de cadeira raspando no chão foi alto. Subitamente todos os homens no salão estavam em pé. Eles ficaram parados feito estátuas, mas cada um deles fitando sombriamente os Mantos-brancos. O suboficial não pareceu notar, mas os quatro atrás dele olharam ao redor, inseguros.

— Será mais fácil para você, estalajadeiro — disse o suboficial —, se cooperar. Estes são tempos difíceis para os que abrigam Amigos das Trevas. Creio que uma estalagem com a Presa do Dragão na porta não atrairia muitos clientes. Pode até haver problemas com fogo, com isso na sua porta.

— Saiam daqui agora mesmo — disse Mestre Gill baixinho —, ou eu mando chamar os Guardas da Rainha para levar o que sobrar de vocês para o monturo.

A espada de Lamgwin saiu raspando de sua bainha, e o ruído rústico do aço no couro se repetiu por todo o salão conforme espadas e adagas eram sacadas. As criadas saíram correndo para as portas.

O suboficial olhou ao redor com desprezo, sem acreditar no que via.

— A Presa do Dragão…

— Não vai ajudar vocês cinco. — Mestre Gill terminou a frase por ele. Ergueu um punho cerrado e levantou o indicador. — Um.

— Você deve estar louco, estalajadeiro, ameaçando os Filhos da Luz.

— Os Mantos-brancos não têm autoridade em Caemlyn. Dois.

— Você realmente acredita que isto vai acabar aqui?

— Três.

— Nós voltaremos — disse o suboficial, ríspido, e em seguida mandou apressadamente os homens darem meia-volta, tentando fingir que estavam saindo ordenadamente e a seu próprio tempo. Isso foi prejudicado pela ansiedade de seus homens ao seguirem para a porta, não correndo, mas também sem fazer segredo de que queriam era estar do lado de fora.

Lamgwin barrava a porta, de espada em punho, abrindo caminho somente em resposta aos acenos frenéticos de Mestre Gill. Quando os Mantos-brancos se foram, o estalajadeiro caiu pesadamente em uma cadeira. Passou uma das mãos na testa, depois olhou para ela como se estivesse surpreso por não estar coberta de suor. Por todo o aposento, homens voltaram a se sentar, rindo pelo que haviam acabado de fazer. Alguns foram até Mestre Gill para lhe dar tapinhas no ombro.

Quando viu Rand, o estalajadeiro saiu cambaleante da cadeira e foi até ele.

— Quem diria que eu poderia dar uma de herói? — perguntou-se. — Que a Luz me ilumine. — Bruscamente ele se sacudiu todo num tremor, e sua voz quase recuperou o tom normal. — Vocês vão ter de ficar longe das vistas até eu achar um jeito de tirá-los da cidade. — Com um olhar cauteloso de volta ao salão, ele empurrou Rand mais para o fundo do corredor. — Aquele bando vai voltar, ou então alguns espiões usando vermelho por um dia. Depois desse espetáculo que eu dei, duvido que eles se importem se vocês estão aqui ou não. Vão agir como se estivessem.

— Isso é loucura — protestou Rand. A um gesto do estalajadeiro, ele abaixou a voz. — Os Mantos-brancos não têm motivo para virem atrás de mim.

— Não sei dos motivos, rapaz, mas que eles estão atrás de você e de Mat é certo. O que você andou aprontando? Elaida e os Mantos-brancos.

Rand levantou as mãos em protesto, depois as deixou cair. Isso não fazia sentido, mas ele tinha ouvido o Manto-branco.

— E quanto ao senhor? Os Mantos-brancos vão lhe causar problemas mesmo que não nos encontrem.

— Não se preocupe com isso, rapaz. Os Guardas da Rainha ainda mantêm a lei, mesmo que deixem traidores andarem por aí mostrando o branco. Quanto à noite… bem, pode ser que Lamgwin e seus amigos não durmam muito, mas eu quase chego a ter pena de alguém que tente colocar uma marca na minha porta.

Gilda apareceu ao lado deles, fazendo uma mesura para Mestre Gill.

— Senhor, tem… tem uma dama. Na cozinha. — Ela parecia escandalizada com essa combinação. — Ela está pedindo para ver Mestre Rand, senhor, e Mestre Mat. Chamou os dois pelo nome.

Rand trocou um olhar intrigado com o estalajadeiro.

— Rapaz — disse Mestre Gill —, se você realmente conseguiu trazer Lady Elayne do Palácio até minha estalagem, vamos todos acabar enfrentando o carrasco. — Gilda deu um gritinho com a menção da Filha-herdeira e olhou para Rand com os olhos arregalados. — Saia daqui, garota — disse o estalajadeiro, severo. — E não fale nada do que você ouviu. Não é da conta de ninguém. — Gilda assentiu de novo e disparou pelo corredor, lançando olhares para trás, dirigidos a Rand. — Em cinco minutos — Mestre Gill suspirou — ela estará contando às outras mulheres que você é um príncipe disfarçado. Ao cair da noite a Cidade Nova inteira vai saber.

— Mestre Gill — disse Rand —, eu nunca mencionei Mat a Elayne. Não pode ser… — Subitamente um sorriso imenso iluminou seu rosto, e ele correu para a cozinha.

— Espere! — gritou o estalajadeiro atrás dele. — Espere até você saber. Espere, seu tolo!

Rand escancarou a porta da cozinha, e lá estavam eles. Moiraine pousou seus olhos serenos sobre ele, sem se surpreender. Nynaeve e Egwene correram rindo para abraçá-lo, com Perrin logo atrás, todos os três dando palmadinhas em seus ombros como se precisassem se convencer de que ele estava realmente ali. Na porta que dava para o pátio do estábulo, Lan descansava com uma bota encostada no batente, dividindo sua atenção entre a cozinha e o pátio lá fora.

Rand tentou abraçar as duas mulheres e apertar a mão de Perrin, tudo ao mesmo tempo, e foi uma confusão de braços e risos complicada ainda mais por Nynaeve tentando sentir o rosto dele para ver se não havia febre. Eles pareciam um tanto maltratados. Havia escoriações no rosto de Perrin, que mantinha os olhos abaixados como jamais fizera antes. Mas estavam vivos, e juntos novamente. Sua garganta estava tão embargada que ele mal conseguia falar.

— Tive medo de nunca mais ver vocês — conseguiu finalmente dizer. — Tive medo de que vocês todos estivessem…

— Eu sabia que você estava vivo — disse Egwene, colada ao seu peito. — Eu sempre soube. Sempre.

— Eu não sabia — disse Nynaeve. Sua voz soou severa naquele instante, mas se suavizou no seguinte, e ela sorriu para ele. — Você parece bem, Rand. Não está muito bem alimentado, mas está bem, graças à Luz.

— Bem — disse Mestre Gill atrás dele —, acho que você conhece essas pessoas afinal. São os amigos que você estava procurando?

Rand assentiu.

— Sim, são os meus amigos. — Ele fez as apresentações; ainda parecia estranho dar a Lan e Moiraine seus nomes verdadeiros. Ambos lhe dirigiram um olhar agudo quando ele o fez.

O estalajadeiro saudou a todos com um sorriso franco, mas mostrou-se devidamente impressionado por conhecer um Guardião, e em especial Moiraine. Quando a viu, seu queixo caiu abertamente. Uma coisa era saber que uma Aes Sedai ajudava os rapazes, e outra bem diferente era ela aparecer em sua cozinha. Fez uma grande mesura.

— A senhora é bem-vinda à Bênção da Rainha, Aes Sedai, como minha convidada. Embora suponho que vá ficar no Palácio com Elaida Sedai, e as Aes Sedai que vieram com o falso Dragão. — Fazendo mais uma mesura, ele lançou a Rand um olhar rápido e preocupado. Tudo bem dizer que não falava mal de Aes Sedai, mas isso não era o mesmo que dizer que queria uma delas dormindo sob seu teto.

Rand assentiu, tentando lhe dizer silenciosamente que estava tudo bem. Moiraine não era parecida com Elaida, com uma ameaça oculta por trás de cada olhar, sob cada palavra. Tem certeza? Mesmo agora você tem certeza?

— Creio que vou ficar aqui — disse Moiraine — pelo curto tempo que permanecer em Caemlyn. E você deve permitir que eu pague.

Um gato malhado pulou do corredor para se enroscar nos tornozelos do estalajadeiro. Mal ele começou, um cinza saiu correndo de sob a mesa, arqueando as costas e sibilando. O malhado armou um bote com um sibilo ameaçador, e o cinza disparou para o pátio do estábulo, passando por Lan.

Mestre Gill começou a se desculpar pelos gatos ao mesmo tempo que protestava afirmando que Moiraine o honraria sendo sua convidada, mas estava mesmo certa de que não preferia o Palácio, o que ele entenderia perfeitamente bem, embora esperasse que ela aceitasse seu melhor quarto como presente. Foi uma tagarelice à qual Moiraine pareceu não dar a menor atenção. Em vez disso, ela se curvou para coçar o gato branco e alaranjado, que prontamente trocou os tornozelos de Mestre Gill pelos dela.

— Já vi quatro outros gatos aqui até agora — disse ela. — Você tem algum problema com camundongos? Ratazanas?

— Ratazanas, Moiraine Sedai. — O estalajadeiro suspirou. — Um problema terrível. Não que eu não mantenha o lugar limpo, a senhora entende. O problema é toda essa gente. A cidade inteira está cheia de gente e de ratos. Mas meus gatos dão conta disso. A senhora não será perturbada, prometo.

Rand trocou um olhar passageiro com Perrin, que abaixou os olhos novamente no mesmo instante. Havia algo de estranho nos olhos de Perrin. E ele estava tão quieto… Perrin era quase sempre lento para falar, mas agora não estava falando absolutamente nada.

— Pode ser a quantidade de gente — disse ele.

— Com sua permissão, Mestre Gill — disse Moiraine, como se ela achasse isso óbvio. — É muito fácil manter os ratos longe desta rua. Com sorte, os ratos nem sequer perceberão que estão sendo mantidos afastados.

Mestre Gill franziu a testa ao ouvir este último comentário, mas fez uma mesura, aceitando a oferta dela.

— Se a senhora tem mesmo certeza de que não prefere se hospedar no Palácio, Aes Sedai.

— Onde está Mat? — perguntou Nynaeve de repente. — Ela disse que ele também estava aqui.

— Lá em cima — informou Rand. — Ele… não está passando bem.

Nynaeve levantou a cabeça.

— Ele está doente? Eu deixo os ratos com ela. Vou cuidar dele. Leve-me a ele agora, Rand.

— Subam todos vocês — disse Moiraine. — Encontro vocês lá em alguns minutos. Estamos atulhando a cozinha de Mestre Gill, e seria melhor se pudéssemos ficar todos em algum lugar tranquilo por um tempo. — Havia uma sugestão subjacente na voz dela. Fiquem longe das vistas. Ainda estamos nos escondendo.

— Venham — disse Rand. — Vamos subir pelos fundos.

Todos de Campo de Emond se amontoaram atrás dele rumo à escada dos fundos, deixando a Aes Sedai e o Guardião na cozinha com Mestre Gill. Rand não conseguia deixar de se maravilhar com o fato de estarem todos juntos novamente. Era quase como se ele estivesse em casa outra vez. Não conseguia parar de sorrir.

O mesmo alívio, quase uma alegria, parecia estar afetando os outros. Eles riam para si mesmos, e continuavam estendendo a mão para agarrar seu braço. A voz de Perrin parecia contida, e ele ainda mantinha a cabeça abaixada, mas começou a falar enquanto subiam.

— Moiraine disse que podia encontrar você e Mat, e foi o que ela fez. Quando entramos na cidade, nós não conseguíamos parar de olhar… bem, todos menos Lan, é claro… todas as pessoas, os prédios, tudo. — Seus cachos espessos balançaram quando ele sacudiu a cabeça incrédulo. — É tudo tão grande. E tanta gente. Algumas pessoas ficaram nos encarando, gritando: “Vermelho ou branco?”, como se isso fizesse algum sentido.

Egwene tocou a espada de Rand, a ponta dos dedos no tecido vermelho.

— O que isso significa?

— Nada — respondeu ele. — Nada importante. Estamos indo para Tar Valon, lembra?

Egwene olhou para ele, mas tirou a mão da espada e continuou de onde Perrin havia parado.

— Moiraine não olhava para nada, assim como Lan. Ela nos levou de um lado para outro tantas vezes por todas aquelas ruas, como um cão farejando, que achei que vocês não podiam estar aqui. Então, de repente, ela desceu uma rua, e, quando dei por mim, estávamos entregando os cavalos ao homem do estábulo e entrando na cozinha. Ela nem perguntou se você estava aqui. Simplesmente disse a uma mulher que estava misturando massa para ir dizer a Rand al’Thor e Mat Cauthon que alguém queria vê-los. E lá estava você — ela sorriu —, como uma bola surgindo da mão de um menestrel, assim do nada.

— Onde está o menestrel? — perguntou Perrin. — Ele está com vocês?

O estômago de Rand deu uma cambalhota, e a sensação boa de estar cercado de amigos diminuiu.

— Thom está morto. Eu acho que está morto. Havia um Desvanecido… — Ele não conseguiu falar mais nada. Nynaeve balançou a cabeça, resmungando baixinho.

O silêncio se adensou ao redor deles, sufocando os risinhos, destruindo a alegria, até eles chegarem ao topo das escadas.

— Mat não está exatamente doente — disse Rand então. — É… Vocês vão ver. — Ele escancarou a porta do quarto que dividia com Mat. — Olhe quem está aqui, Mat.

Mat ainda estava curvado numa bola sobre a cama, do jeito que Rand o havia deixado. Ele levantou a cabeça para olhar para eles.

— Como sabe que eles são realmente quem parecem ser? — perguntou, a voz rouca. Seu rosto estava lívido, a pele repuxada e molhada de suor. — Como é que eu sei que vocês são quem aparentam ser?

— Não está doente? — Nynaeve lançou a Rand um olhar de desdém quando passou por ele, já tirando a bolsa do ombro.

— Todo mundo muda. — A voz de Mat soava áspera. — Como eu posso ter certeza? Perrin? É você mesmo? Você mudou, não mudou? — Sua gargalhada soou mais como uma tosse. — Ah, sim, você mudou.

Para surpresa de Rand, Perrin sentou-se pesadamente na beirada da outra cama, levando as mãos à cabeça, olhando para o chão. A risada cortante de Mat parecia rasgá-lo por dentro.

Nynaeve se ajoelhou ao lado da cama de Mat e levou uma das mãos ao rosto dele, afastando-lhe o lenço da cabeça. Ele se afastou dela com um olhar de desdém. Seus olhos brilhavam, embaçados.

— Você está queimando — disse ela —, mas não deveria estar suando com uma febre tão alta. — Ela não conseguiu esconder a preocupação na voz. — Rand, você e Perrin peguem alguns panos limpos e o máximo de água fria que puderem carregar. Vou baixar a sua temperatura primeiro, Mat, e…

— Bela Nynaeve — cuspiu Mat. — Uma Sabedoria não deveria pensar em si mesma como uma mulher, não é? Não uma mulher bonita. Mas você pensa, não pensa? Você não consegue se forçar a esquecer que é uma mulher bonita, e isso apavora você. Todo mundo muda. — O rosto de Nynaeve empalideceu enquanto ele falava. Se de raiva ou alguma outra coisa, Rand não soube dizer. Mat deu uma gargalhada sórdida, e seus olhos febris deslizaram para Egwene. — Bela Egwene — coaxou ele. — Bonita como Nynaeve. E agora vocês compartilham outras coisas também, não é? Outros sonhos. Você sonha agora com o quê? — Egwene recuou um passo, afastando-se da cama.

— Estamos livres dos olhos do Tenebroso por ora — anunciou Moiraine ao entrar no quarto com Lan logo atrás. Seus olhos recaíram em Mat quando ela passou pela porta, e ela sibilou como se tivesse posto a mão num fogão quente. — Afastem-se dele!

Nynaeve não se moveu, a não ser para se virar e olhar surpresa para a Aes Sedai. Em dois passos rápidos, Moiraine agarrou a Sabedoria pelos ombros, arrastando-a para o outro lado do quarto como a um saco de grãos. Nynaeve lutou e protestou, mas Moiraine não a soltou até que ela estivesse bem longe da cama. A Sabedoria continuou a protestar ao se levantar, endireitando as roupas, irritada, mas Moiraine a ignorou completamente. A Aes Sedai observava Mat, ignorando todo o resto e olhando-o como olharia para uma serpente.

— Todos vocês, longe dele — disse. — E fiquem quietos.

Mat a encarou de volta com a mesma intensidade. Ele arreganhou os dentes num ricto silencioso, resfolegando, e se encolheu num nó ainda mais tenso, mas não tirou os olhos dela. Lentamente ela pôs uma das mãos sobre ele, de leve, num joelho dobrado até o peito. Uma convulsão o sacudiu ao toque dela, um estremecimento de asco que lhe percorreu o corpo inteiro em espasmos, e subitamente ele moveu uma das mãos, tentando cortar o rosto de Moiraine com a adaga de cabo de rubi.

Num instante Lan estava no limiar da porta, no seguinte surgia ao lado da cama, como se não existisse o espaço entre os dois pontos. Sua mão agarrou o pulso de Mat, impedindo o golpe, como se Mat tivesse atingido uma rocha. Mesmo assim, o garoto continuou encolhido em posição fetal. Somente a mão com a adaga tentava se mover, lutando contra a mão implacável do Guardião. Os olhos de Mat não se desviavam de Moiraine e queimavam de ódio.

Moiraine também não se mexia. Não se afastava da lâmina, a centímetros de seu rosto, assim como não tinha se afastado quando ele atacara.

— Como ele conseguiu isso? — indagou com uma voz de aço. — Eu perguntei se Mordeth tinha dado alguma coisa a vocês. Perguntei, e avisei, e vocês disseram que não.

— Ele não deu nada — disse Rand. — Ele… Mat pegou a adaga na sala do tesouro. — Moiraine olhou para ele. Seus olhos pareciam arder tanto quanto os de Mat. Rand quase recuou um passo antes que ela se virasse novamente para a cama. — Eu só soube depois que nos separamos. Eu não sabia.

— Você não sabia. — Moiraine estudou Mat. Ele ainda estava deitado com os joelhos levantados, ainda rosnava para ela sem fazer qualquer som, e sua mão ainda lutava contra Lan para alcançá-la com a adaga. — É um assombro que vocês tenham chegado até aqui carregando isso. Senti o mal que emana dela quando pus os olhos nele, o toque de Mashadar, mas um Desvanecido poderia sentir isso a milhas. Muito embora ele não fosse saber exatamente onde, saberia que estava perto, e Mashadar atrairia seu espírito ao mesmo tempo que seus ossos se lembrariam de que este mesmo mal engoliu um exército. Amigos das Trevas, Desvanecidos, Trollocs, tudo. Alguns Amigos das Trevas provavelmente poderiam sentir isso também. Aqueles que realmente entregaram suas almas. Decerto houve quem se espantasse por sentir isso de repente, como se o próprio ar em volta pinicasse. Eles devem ter sido compelidos a procurar. Deve tê-los atraído como um ímã atrai limalhas de ferro.

— Houve Amigos das Trevas — disse Rand —, mais de uma vez, mas nós fugimos deles. E um Desvanecido, na noite antes de chegarmos a Caemlyn, mas ele não nos viu. — Pigarreou. — Há rumores de coisas estranhas à noite fora da cidade. Podem ser Trollocs.

— E são Trollocs, pastor — disse Lan, seco. — E onde há Trollocs há Desvanecidos. — Os tendões se destacavam nas costas da sua mão pelo esforço de segurar o pulso de Mat, mas não havia tensão em sua voz. — Eles têm tentado esconder sua passagem, mas há dois dias que vejo sinais deles. E ouço fazendeiros e aldeões resmungarem sobre coisas estranhas à noite. Os Myrddraal conseguiram atacar os Dois Rios sem serem vistos, de algum modo, mas a cada dia eles chegam mais perto daqueles que podem enviar soldados para caçá-los. Nem assim eles vão parar agora, pastor.

— Mas nós estamos em Caemlyn — disse Egwene. — Eles não podem chegar até nós enquanto…

— Não podem? — o Guardião a cortou. — Os Desvanecidos estão aumentando a tropa no campo. Isto é óbvio pelos sinais, se você souber o que está procurando. Já há mais Trollocs do que eles precisam só para vigiar os caminhos de saída da cidade, pelo menos uma dúzia de punhos. Só pode haver uma razão; quando os Desvanecidos tiverem soldados suficientes, entrarão na cidade atrás de vocês. Esse ato pode fazer metade dos exércitos do sul marchar até as Terras da Fronteira, mas a evidência é de que eles estão dispostos a correr esse risco. Vocês três escaparam deles por tempo demais. Parece que trouxeram uma nova Guerra dos Trollocs a Caemlyn, pastor.

Egwene arquejou, e Perrin balançou a cabeça como se para negar isso. Rand sentiu um mal-estar no estômago só de pensar em Trollocs nas ruas de Caemlyn. Todas aquelas pessoas se pondo umas contra as outras, sem perceber a verdadeira ameaça esperando para atravessar as muralhas. O que eles fariam quando subitamente vissem Trollocs e Desvanecidos em seu meio, matando-os? Rand podia ver as torres queimando, chamas irrompendo das cúpulas, Trollocs saqueando as ruas curvas e mirantes da Cidade Interna. O próprio Palácio em chamas. Elayne, e Gawyn, e Morgase… mortos.

— Não ainda — disse Moiraine, absorta. Ela ainda se concentrava em Mat. — Se conseguirmos encontrar um jeito de sair de Caemlyn, os Meios-homens não terão mais interesse aqui. Se. Tantos ses.

— Era melhor estarmos todos mortos — disse Perrin subitamente, e Rand deu um pulo de susto ao eco dos próprios pensamentos. Perrin ainda estava sentado olhando para o chão, fuzilando-o agora, e sua voz soava amarga. — Para todo lugar que vamos, levamos dor e sofrimento nas costas. Seria melhor para todos se estivéssemos mortos.

Nynaeve se virou subitamente para ele, seu rosto metade fúria e metade medo e preocupação, mas Moiraine se adiantou a ela.

— O que você pensa em ganhar, para si ou para qualquer outra pessoa, morrendo? — perguntou a Aes Sedai. Sua voz era neutra, mas severa. — Se o Senhor do Túmulo já ganhou o tanto de liberdade que eu temo para tocar o Padrão, ele poderá alcançar vocês mortos mais facilmente do que vivos agora. Mortos, vocês não podem ajudar ninguém, nem as pessoas que os ajudaram, nem seus amigos e família nos Dois Rios. A Sombra está caindo sobre o mundo, e nenhum de vocês poderá detê-la morto.

Perrin ergueu a cabeça para olhar para ela, e Rand levou um susto. As íris dos olhos de seu amigo estavam mais amarelas que castanhas. Com seus cabelos despenteados e a intensidade de seu olhar, havia alguma coisa nele… Rand não conseguia identificar o que era.

Perrin falou com uma inexpressividade suave que deu às palavras mais peso do que se ele tivesse gritado.

— Também não podemos detê-la vivos, podemos?

— Terei tempo para discutir isso com você mais tarde — disse Moiraine —, mas seu amigo precisa de mim agora. — Ela deu um passo para o lado para que todos pudessem ver Mat com clareza. Ainda dirigindo a ela um olhar repleto de ódio, ele não havia se movido nem mudado de posição na cama. O rosto estava coberto de suor, e os lábios mostravam-se brancos, imobilizados num esgar. Toda a sua força parecia estar concentrada no esforço de atingir Moiraine com a adaga que Lan mantinha imóvel. — Ou você havia esquecido?

Perrin deu de ombros, envergonhado, e abriu as mãos sem dizer palavra.

— O que há de errado com ele? — perguntou Egwene.

— É contagioso? — Nynaeve acrescentou. — Ainda posso tratar dele. Não importa o que seja, aparentemente eu nunca fico doente, não importa do quê.

— Ah, se é — disse Moiraine —, e sua… proteção não a salvaria. — Ela apontou para a adaga com cabo de rubi, tomando cuidado de não deixar seu dedo tocar nela. A lâmina estremecia enquanto Mat lutava para atingi-la com ela. — Isto é de Shadar Logoth. Não há uma pedra daquela cidade que não esteja maculada e não represente perigo ao ser levada para fora das muralhas, e isto aqui é bem mais do que uma pedrinha. O mal que matou Shadar Logoth está contido nela, e agora em Mat também. Desconfiança e ódio tão fortes que mesmo os mais próximos são vistos como inimigos, enraizados tão profundamente que por fim o único pensamento que resta é o de matar. Trazendo a adaga para além das muralhas de Shadar Logoth ele a libertou, esta semente, do que a prendia àquele lugar. Ela ganhou e perdeu forças, com a luta do que ele é bem no fundo contra o que o contágio de Mashadar procurava fazê-lo se tornar, mas agora a batalha dentro dele está quase no fim, e ele está quase derrotado. Logo, se ela não o matar primeiro, ele espalhará esse mal como uma peste para onde quer que vá. Assim como um único arranhão dessa lâmina basta para infectar e destruir, em pouco tempo alguns minutos com Mat serão tão mortais quanto ela.

O rosto de Nynaeve estava branco.

— Você pode fazer alguma coisa? — sussurrou.

— Espero que sim. — Moiraine suspirou. — Pelo bem do mundo, espero não ter chegado tarde demais. — Ela enfiou a mão na bolsa em seu cinturão e retirou o angreal envolto em seda. — Deixem-me. Fiquem juntos, e encontrem um lugar onde não sejam vistos, mas saiam daqui. Farei o que puder por ele.

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