CAPÍTULO VIII Acesso ao acaso

O teólogo abandona-se à tarefa agradável de descrever a Religião como ela desceu do Céu, revestida da sua pureza inata. Um dever mais melancólico é imposto ao historiador. Ele tem a obrigação de descobrir a mistura inevitável de erro e corrupção que ela contraiu numa longa residência na Terra, entre uma fraca e degenerada raça de seres.

EDUARD GIBBON. Declínio e Queda do Império Romano, XV

Ellie ignorou o acesso ao acaso e avançou seqüencialmente através dos canais de televisão. Lifestyles of the Mass Nlurderers e You Bet Your Ass estavam em canais adjacentes. Um olhar bastou para tornar evidente que a promessa do médium continuava por cumprir. Havia um aguerrido jogo de basquetebol entre os Widcats, de Johnson City, e os Tigers, de Union-Endicott; os jovens jogadores e jogadoras davam tudo por tudo. No canal seguinte podia assistir-se a uma exortação em parte sobre próprias versus impróprias observâncias do Ramadão. Mais adiante havia um dos canais fechados, este aparentemente dedicado a práticas sexuais universalmente repugnantes. Encontrou em seguida um dos primeiros canais de computadores destinados a jogos de desempenho de papéis de fantasia e agora a atravessarem tempos difíceis. Ligado ao computador doméstico de uma pessoa, oferecia uma única entrada numa nova aventura, naquele dia aparentemente chamada Gilgamesh Galáctico, na esperança de que a pessoa a achasse suficientemente interessante para encomendar o correspondente floppy disk num dos canais destinados a vendas. Eram tomadas precauções eletrônicas adequadas para que não se pudesse gravar o programa durante a única participação da pessoa. Ellie pensava que a maior parte daqueles jogos vídeo eram tentativas desesperadamente erradas para preparar adolescentes para um futuro desconhecido.

A sua atenção foi atraída por um apresentador muito sério de uma das antigas cadeias de televisão a discutir com inequívoca preocupação o que era descrito como um ataque não provocado de torpedeiros norte-vietnamitas a dois contratorpedeiros da Esquadra dos EUA no golfo de Tonquim e o pedido do presidente dos EUA de autorização para «tomar todas as providências necessárias» em resposta ao ataque. O programa era um dos seus favoritos: Yesterday’s News, retransmissões de programas noticiosos de anos anteriores. A segunda metade do programa consistia numa dissecação, ponto por ponto, da desinformação da primeira metade e da obstinada credulidade das novas organizações perante quaisquer afirmações de qualquer administração, por muito injustificadas e em proveito próprio que fossem, era uma das várias séries de televisão produzidas por uma organização chamada REALI-TV, incluindo Promises, destinada a efetuar análises de promessas eleitorais não cumpridas aos níveis local, estadual e nacional, e Bamboozes and Baloney, um bota-abaixo semanal do que era considerado preconceitos muito espalhados, propaganda e mitos. A data ao fundo do écran era 5 de Agosto de 1964, e avassalou-a uma onda de recordações — nostalgia não era a palavra apropriada — dos seus tempos de liceu. Prosseguiu.

Enquanto os canais se sucediam, passou por uma série de cozinha oriental dedicada naquela semana ao hibachi, um anúncio demorado da primeira geração de robots domésticos para fins gerais da Hadden Cybernetics, o noticiário e o programa de comentários da Embaixada Soviética em língua russa, diversas freqüências de noticiários e programas infantis, o programa de Matemática, exibindo os estonteantes gráficos de computador do novo curso de Geometria Analítica da Cornell, o canal de apartamentos locais e bens imobiliários e uma molhada de execráveis séries diurnas, até chegar às cadeias religiosas, onde, com excitação continuada e geral, a Mensagem estava a ser discutida.

O número de freqüentadores das igrejas subira em flecha em toda a América. Ellie estava convencida de que a Mensagem era uma espécie de espelho no qual cada pessoa via as suas próprias crenças desejadas ou confirmadas. Era considerada uma defesa coletiva de doutrinas apocalípticas e escatológicas mutuamente exclusivas. No Peru, na Argélia, no México, no Zimbabwe, no Equador e entre os índios Hopi realizavam-se sérios debates públicos sobre se as suas civilizações progenitoras tinham vindo do espaço; as opiniões apoiantes eram atacadas como colonialistas. Católicos debatiam o estado de graça extraterrestre. Protestantes discutiam possíveis missões anteriores de Jesus a planetas próximos e, claro, um regresso à Terra. Muçulmanos preocupavam-se com a possibilidade de a Mensagem violar o mandamento contra imagens gravadas. No Kuwait, um homem auto-proclamou-se o imã oculto dos Xiitas. Despertara um fervor messiânico entre os Sossafer Chasids. Noutras congregações de judeus ortodoxos houve uma súbita renovação de interesse por Astruc, um fanático receoso de que o saber minasse a fé e que em 1305 induzira o rabino de Barcelona, o principal clérigo judaico do tempo, a proibir o estudo da Ciência ou da Filosofia àqueles que tivessem menos de vinte e cinco anos, sob pena de excomunhão. Correntes similares eram crescentemente discerníveis no Islã. Um filósofo tessalônico, auspiciosamente chamado Nicholas Polydemos, estava a atrair as atenções com um conjunto de argumentos apaixonados a favor daquilo a que chamava a «reunificação» das religiões, dos governos e dos povos do mundo. Críticos começavam por questionar o KreN.

Grupos interessados em OVNIs tinham organizado vigílias ininterruptas na Base da Força Aérea de Brooks, perto de San Antonio, onde constava que os corpos perfeitamente conservados de quatro ocupantes de um disco voador que aterrara de emergência em 1947 iam definhando em congeladores. Dizia-se que os extraterrestres em questão tinham um metro de altura e dentes minúsculos e impecáveis. Tinham sido reportadas aparições de Vishnu na Índia e de Amida Buda no Japão e anunciadas curas miraculosas, às centenas, em Lurdes; proclamara-se uma nova Bodisatva no Tibete. Um novo culto de carga foi importado da Nova Guiné para a Austrália; pregava a construção de réplicas grosseiras de radiotelescópios para atraírem a generosidade extraterrestre. A União Mundial de Livres Pensadores chamava à Mensagem uma refutação da existência de Deus. A igreja mórmon declarava-a uma segunda revelação pelo anjo Moroni.

A Mensagem era considerada por grupos diferentes como uma prova da existência de muitos deuses, ou um deus, ou nenhum deus. O quiliasmo proliferava. Havia os que prediziam o Milênio em 1999 — como uma inversão cabalística de 1666, o ano que Sabbatai Zevi adotara para o seu milênio; outros optavam por 1996 ou 2033, os presumíveis dois milésimos aniversários do nascimento ou da morte de Jesus. O Grande Ciclo dos antigos Maias seria completado no ano 2011, quando — de acordo com esta tradição cultural independente — o cosmo acabaria. A convolução da predição maia com o milenarismo cristão estava a produzir uma espécie de frenesi apocalíptico no México e na América Central. Alguns quiliastas que acreditavam nas primeiras datas tinham começado a dar a sua riqueza aos pobres, em parte porque, de qualquer maneira, em breve não valeria nada, e em parte como arras para Deus, um suborno para o Advento.

O sectarismo, o fanatismo, o medo, a esperança, o debate fervoroso, a prece silenciosa, a reavaliação angustiante, a abnegação exemplar, a intolerância tacanha e um gosto por idéias dramaticamente novas constituíam uma epidemia, corriam febrilmente pela superfície do minúsculo planeta Terra. Emergindo lentamente deste poderoso fermento, Ellie julgava ver o alvorecer do reconhecimento do mundo como um fio de uma imensa tapeçaria cósmica. Entretanto, a Mensagem propriamente dita continuava a resistir às tentativas de decifração.

Nos canais de difamação, protegidos pela Primeira Emenda, ela, Vaygay, Der Heer e, em menor grau, Peter Valerian estavam a ser severamente acusados de uma variedade de delitos, incluindo ateísmo, comunismo e sonegação da Mensagem para eles próprios. Na sua opinião, Vaygay não era grande comunista e Valerian tinha uma fé cristã profunda e serena, mas sofisticada. Se tivessem a sorte de se aproximar, ao menos, da decifração da Mensagem, estava disposta a entregá-la pessoalmente àquele comentador de televisão pateta e santimonial. David Drumlin, no entanto, estava a ser apresentado como o herói, o homem que decifrara realmente as emissões de números primos e as olimpíadas; ele era o tipo de cientista de que mais precisávamos. Ellie suspirou e mudou novamente de canal.

Chegara ao TABS, o Turner-American Broadcasting System, único sobrevivente das grandes cadeias comerciais que tinham dominado a emissão televisiva nos Estados Unidos da América até ao advento da disseminada transmissão direta por satélite e do cabo de cento e oitenta canais. Naquele posto, Palmer Joss efetuava um dos seus raros aparecimentos na Televisão. Como a maioria dos Americanos, Ellie reconheceu imediatamente a sua voz ressoante, a sua beleza ligeiramente descuidada e a descoloração sob os olhos, que fazia pensar que ele nunca dormia, de tanto se preocupar com o resto das pessoas.

— Que fez a ciência realmente por nós? — declamou. Somos realmente mais felizes? Não me refiro apenas a receptores holográficos e uvas sem grainha. Somos fundamentalmente mais felizes? Ou subornam-nos os cientistas com brinquedos, como prendas tecnológicas, enquanto minam a nossa fé?

Aqui está um homem, pensou ela, que anela por uma era mais simples, um homem que consagrou a sua vida a tentar conciliar o inconciliável. Condenou os excessos mais flagrantes da religião pop e pensa que isso justifica ataques à evolução e à relatividade. Por que não atacar a existência do elétron? Palmer Joss nunca viu nenhum e a Bíblia está inocente no tocante ao eletromagnetismo. Por quê acreditar em elétrons? Embora anteriormente nunca o tivesse ouvido falar, teve a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, ele aludiria à Mensagem. E assim foi.

— Os cientistas guardam as suas descobertas para eles mesmos, atiram-nos migalhas, o suficiente para nos manterem calados. Pensam que somos demasiado estúpidos para compreender o que eles compreendem. Dão-nos conclusões sem provas, descobertas como se fossem escritos sagrados, e não especulações, teorias, hipóteses — aquilo a que as pessoas comuns chamariam «conjecturas». Nunca perguntam se uma nova teoria é tão boa para as pessoas como a crença que tenta substituir. Sobreestimam o que sabem e subestimam o que nós sabemos. Quando pedimos explicações, respondem que são precisos anos para compreender. Eu sei isso, porque em religião também há coisas que levam anos a compreender. Podemos gastar uma vida inteira sem nunca chegarmos perto da compreensão da natureza de Deus Todo-Poderoso. Mas não vemos os cientistas procurarem os líderes religiosos para os interrogarem acerca dos seus anos de estudo, e introspecção, e oração. Eles nunca pensam em nós duas vezes, a não ser quando nos induzem em erro e enganam.

«E agora dizem que têm uma mensagem da estrela Vega. Mas uma estrela não pode enviar uma mensagem. Alguém a está a enviar. Quem? O propósito da Mensagem é divino ou satânico? Quando eles decifrarem a Mensagem, ela terminará com as palavras «Vosso dedicado, Deus»… ou «Sinceramente, o Diabo?» Quando os cientistas resolverem dizer-nos o que está na Mensagem, dir-nos-ão a inteira verdade? Ou ocultarão alguma coisa por pensarem que a não saberemos compreender ou porque não condiz com aquilo em que eles acreditam? Não foram estas as pessoas que nos ensinaram a aniquilar-nos a nós próprios?

«Digo-vos, meus amigos, a ciência é demasiado importante para ser deixada a cargo dos cientistas. Representantes das fés principais devem participar no processo de decifração. Devemos ver os dados puros. É assim que os cientistas lhes chamam, «puros». Caso contrário… caso contrário aonde iremos parar? Eles dir-nos-ão qualquer coisa a respeito da Mensagem. Talvez aquilo em que realmente acreditam. Talvez não. E nós teremos de aceitar seja o que for que nos disserem. Há algumas coisas de que os cientistas percebem. Há outras coisas — acreditem na minha palavra — de que não percebem nada. Talvez tenham recebido uma mensagem de outro ser do firmamento. Talvez não. Podem ter a certeza de que a Mensagem não é um bezerro de ouro? Não creio que o reconhecessem se vissem algum. Estes são aqueles que nos deram a bomba de hidrogênio. Perdoai-me, Senhor, não ser mais grato a essas bondosas almas.

«Vi Deus cara a cara. Adoro-O, confio n’Ele, amo-O com toda a minha alma, com todo o meu ser. Penso que ninguém pode acreditar mais do que eu acredito. Não consigo imaginar como poderiam os cientistas acreditar em ciência mais do que eu acredito em Deus.

«Eles estão preparados para atirar fora as suas «verdades» quando aparece uma idéia nova. Orgulham-se disso. Não vêem um fim para o saber. Imaginam que estamos encerrados em ignorância até ao fim dos tempos, que não existe nenhuma certeza em parte alguma da natureza. Newton destronou Aristóteles. Einstein destronou Newton. Amanhã alguém destronará Einstein. Assim que conseguimos compreender uma teoria, surge outra no seu lugar. Eu não me importaria tanto se nos tivessem avisado e que as idéias velhas eram experimentais. A lei da gravitação de Newton, chamaram-lhe. Ainda lhe chamam isso. Mas, se era uma lei da natureza, como podia estar errada? Como podia ser derrubada? Só Deus pode revogar as leis da natureza, não os cientistas. Eles apenas perceberam as coisas mal. Se Albert Einstein teve razão, Isaac Newton foi um amador, um trapalhão.

«Lembrai-vos, os cientistas não acenam sempre. Querem tirar-nos a nossa fé, as nossas crenças, e não nos oferecem em troca nada de valor espiritual. Não tenciono abandonar Deus porque os cientistas escrevem um livro e dizem que é uma mensagem de Vega. Não adorarei a ciência. Não desafiarei o Primeiro Mandamento. Não me inclinarei perante um bezerro de ouro.»


Quando era muito novo, antes de se tornar largamente conhecido e admirado, Palmer Joss fora um animador de festivais. Vinha mencionado no seu perfil, na Timesweek; não era segredo nenhum. Para o ajudar a fazer fortuna mandara tatuar penosamente no tronco um mapa da Terra em projeção cilíndrica. Exibia-se em feiras de condado e espetáculos de segunda categoria de Oklahoma ao Mississipi, um dos vagabundos e restos de uma época de entretenimento rural itinerante mais vigoroso. Na expansão de oceano azul estavam os quatro deuses dos ventos, de bochechas distendidas a soprar ventos prevalecentes ocidentais e do nordeste. Fletindo os peitorais, conseguia fazer Boreas seguir juntamente com o Atlântico Médio. Depois declamava, para os espantados espectadores, do livro 6 das Metamorfoses, de Ovídio:

Monarca da Violência, rolando nas nuvens,

Agito vastas águas e derrubo enormes árvores…

Possesso de raiva demoníaca, penetro

Completamente nas maiores cavernas da velha Terra;

E num esforço, subindo desses insondáveis abismos,

Disperso as sombras aterrorizadas do Inferno;

E arremesso mundo fora mortíferos terremotos!

Fogo e enxofre da velha Roma. Com alguma ajuda das mãos, demonstrava a deriva continental, empurrando a África Ocidental contra a América do Sul, de modo a juntarem-se, como as peças de um quebra-cabeças, quase perfeitamente na longitude do seu umbigo. Anunciavam-no como «Geos, o Homem-Terra».

Joss era um grande leitor e, sem o estorvo de uma educação formal para além da escola média, não sabia, porque ninguém lho dissera, que a ciência e os clássicos eram dieta inadequada para gente comum. Ajudado pelo seu aspecto atraente, mas natural e descuidado, insinuava-se nas graças das bibliotecárias das cidades ao longo do trajeto do espetáculo e perguntava que livros sérios deveria ler. Queria, dizia-lhes, cultivar-se. Obedientemente, leu livros a respeito de conquistar amigos, investir em bens imobiliários e intimidar os conhecidos sem eles darem por isso, mas achava esses livros de certo modo superficiais. Em contraste, parecia-lhe detectar qualidade na literatura antiga e na ciência moderna. Quando havia paragens temporárias, revolvia a biblioteca municipal ou do condado. Aprendeu assim alguma geografia e história. Estavam relacionadas com o seu trabalho, dizia a Elvira, a Rapariga-Elefante, que o interrogava a fundo sobre as suas ausências. Suspeitava que ele tinha namoros compulsivos — uma bibliotecária em cada porto, disse-lhe uma vez —, mas tinha de admitir que o seu trinta-e-um de boca profissional estava a melhorar. O conteúdo era demasiado intelectual, mas a apresentação estava à altura da assistência. Surpreendentemente, a pequena barraca de Joss começou a render dinheiro ao espetáculo.

Um dia, de costas para a assistência, estava a demonstrar a colisão da Índia com a Ásia e o resultante surgimento dos Himalaias, quando, de um céu cinzento, mas sem chuva, desceu um raio que o atingiu e matou. Houvera ciclones no Sudeste de Oklahoma e o tempo estava instável em todo o Sul. Teve a noção perfeitamente lúcida de deixar o corpo — tristemente estatelado nas tábuas cobertas de serradura e a ser olhado com cautela e algo parecido com temor pela pequena multidão — e subir, subir como que por um comprido túnel escuro, a aproximar-se lentamente de uma luz brilhante. E na radiância distinguiu gradualmente uma figura de proporções heróicas, na verdade, de proporções divinas.

Quando acordou, descobriu que uma parte de si mesmo se sentia decepcionada por estar vivo. Encontrava-se deitado num divã, num quarto modestamente mobiliado. Debruçado para ele estava o reverendo Billy Jo Rankin, não o presente portador do nome, mas o seu pai, um venerando pregador substituto do terceiro quartel do século XX. Ao fundo, Joss julgou ver uma dúzia de vultos encapuzados a cantar o Kyrie Eleison. Mas não teve a certeza.

— Vou viver ou morrer? — murmurou o jovem.

— Meu rapaz, vais fazer as duas coisas — respondeu-lhe o reverendo Rankin.

Joss não tardou a ser avassalado por um pungente sentimento de descoberta da existência do mundo. Mas, de uma maneira que lhe era difícil expressar, esse sentimento estava em conflito com a imagem beatífica que vira e com a infinita alegria que essa visão pressagiava. Sentia as duas sensações em conflito dentro do seu peito. Em várias circunstâncias, às vezes no meio de uma frase, tomava consciência de que um ou o outro desses sentimentos fazia qualquer reivindicação de falar ou agir. Passado algum tempo sentiu-se bem a viver com ambos.

Estivera realmente morto, disseram-lhe depois. Um médico declarara-o morto. Mas tinham rezado por ele, haviam cantado hinos e tinham até tentado fazê-lo reviver por massagem corporal (principalmente nas vizinhanças da Mauritânia). Tinham-no devolvido à vida. Ele renascera, verdadeira e literalmente. Como isto correspondia tão bem à sua própria percepção da experiência, aceitou o que lhe diziam, e de bom grado. Embora quase nunca falasse disso, convenceu-se da importância do acontecimento. Não tinha sido morto por um raio para nada. Não tinha sido devolvido à vida sem nenhuma razão.

Sob a tutela do seu protetor, começou a estudar as Escrituras a sério. Sentiu-se profundamente emocionado com a idéia da Ressurreição e a doutrina da Salvação. Ao princípio ajudou o reverendo Rankin em pequenas coisas, substituindo-o eventualmente nos compromissos de pregação mais onerosos ou mais distantes — especialmente depois de o jovem Billy Jo Rankin partir para Odessa, no Texas, em resposta a um chamamento de Deus. Em breve Joss encontrou um estilo de pregação próprio, não tanto exortativo como explanativo. Numa linguagem simples e com metáforas de igual simplicidade, explicava o batismo e a vida depois da morte, a ligação da Revelação Cristã com os mitos da Grécia e Roma clássicas, a idéia do plano de Deus para o mundo e a conformidade da ciência e da religião quando ambas eram apropriadamente compreendidas. Esta não era uma maneira de pregação convencional e era excessivamente ecumênica para muitos gostos. Mas revelou-se inesperadamente popular.

— Tu renasceste, Joss — disse-lhe o Rankin pai. — Por isso devias mudar de nome. Mas Palmer Joss é um nome tão excelente para um pregador que serias um idiota se o não conservasses.

Como os médicos e os advogados, os vendedores de religião raramente criticam as mercadorias uns dos outros, como Joss já tivera ocasião de verificar. Mas uma noite assistiu a serviços na nova Igreja de Deus, Cruzado, para ouvir o jovem Billy Jo Rankin, triunfalmente regressado de Odessa, pregar à multidão. Billy Jo enunciou uma severa doutrina de Recompensa, Castigo e Êxtase. Mas aquela noite era uma noite para sarar. O instrumento curativo, foi dito à congregação, era a mais santa das relíquias — mais santa ainda do que uma lasca da Verdadeira Cruz, mais santa mesmo do que o osso da coxa de Santa Teresa de Ávila que o generalíssimo Francisco Franco tivera no seu gabinete para intimidar os crentes. O que Billy Jo Rankin brandia era o genuíno líquido amniótico que rodeara e protegera Nosso Senhor. O líquido tinha sido cuidadosamente conservado numa antiga vasilha de barro que pertencera, dizia-se, a Santa Ana. A mais pequenina gotinha dele curaria o que quer que apoquentasse uma pessoa, prometeu, através de um ato especial de Graça Divina. Aquelas águas, mais sagradas do que todas as águas sagradas, estavam com eles naquela noite.

Joss ficou aterrado, não tanto por Rankin se atrever a uma intrujice tão transparente, como pelo fato de alguns dos paroquianos serem crédulos ao ponto de a aceitarem. Na sua vida anterior assistira a muitas tentativas para ludibriar o público. Mas isso era espetáculo. Isto era diferente. Isto era religião. A religião era demasiado importante para dourar a verdade, quanto mais para fabricar milagres. Começou a denunciar semelhante impostura do púlpito.

À medida que o seu fervor aumentava, passou a manifestar-se contra outras formas divergentes de fundamentalismo cristão, incluindo os aspirantes a herpetologistas que punham à prova a sua fé acariciando serpentes, de acordo com a afirmação bíblica de que os puros de coração não devem temer o veneno delas. Num sermão largamente citado parafraseou Voltaire. Nunca pensara, disse, que conheceria homens do clero tão venais ao ponto de constituírem apoio aos blasfemos que ensinavam que o primeiro sacerdote tinha sido o primeiro embusteiro que encontrara o primeiro parvo. Estas religiões estavam a prejudicar a religião. Brandiu graciosamente o dedo no ar.

Joss afirmou que em todas as religiões havia uma linha doutrinária que, ultrapassada, insultava a inteligência dos seus praticantes. Pessoas razoáveis podiam discordar quanto ao ponto em que essa linha devia ser traçada, mas as religiões ultrapassavam-na muito, para prejuízo seu. As pessoas não eram idiotas, disse. No dia anterior à sua morte, quando estava a pôr os seus assuntos em ordem, Rankin pai mandou informar Joss de que nunca mais lhe queria pôr os olhos em cima.

Ao mesmo tempo, Joss começou a pregar que a ciência também não possuía todas as soluções. Encontrava incoerências na teoria da evolução. Os cientistas limitavam-se a varrer para debaixo do tapete as descobertas embaraçosas, os fatos que não se ajustavam, dizia. Eles sabem tanto que a Terra tem 4,6 mil milhões de anos como o arcebispo Ussher sabia que ela tinha seis mil anos. Ninguém vira a evolução acontecer, ninguém estivera a registrar o tempo desde a Criação. («Duzentos milhões de trilhões de Mississipis…», imaginou uma vez o paciente verificador do tempo a entoar, enquanto contava os segundos desde a origem do mundo.)

E a teoria da relatividade de Einstein também não estava provada. Não se podia viajar mais depressa do que a luz, fosse de que maneira fosse, dissera Einstein. Como podia ele saber? Até que ponto se aproximara ele da velocidade da luz? A relatividade era apenas uma maneira de compreender o mundo. Einstein não podia restringir o que a espécie humana seria capaz de fazer no futuro longínquo. E Einstein não podia, com certeza, estabelecer limites ao que Deus era capaz de fazer. Deus não poderia viajar mais rapidamente do que a luz, se Ele quisesse? Deus não poderia fazer-nos viajar mais rapidamente do que a luz, se Ele quisesse? Havia excessos na ciência e havia excessos na religião. Um homem razoável não podia ser coagido por qualquer delas. Havia muitas interpretações das Escrituras e muitas interpretações do mundo natural. Ambas as coisas tinham sido criadas por Deus; logo, ambas deviam ser mutuamente coerentes. Onde quer que parece existir uma discrepância, isso significa que ou um cientista ou um teólogo — talvez ambos — não fizeram o seu trabalho bem feito:

Palmer Joss combinava a sua crítica imparcial da ciência e da religião com um apelo fervoroso à retidão moral e um respeito pela inteligência do seu rebanho. Por fases lentas, foi conquistando reputação nacional. Em debates sobre o ensino e «criacionismo científico» nas escolas, sobre o status ético do aborto e de embriões congelados, sobre a admissibilidade da engenharia genética, tentava à sua maneira seguir uma rota média, conciliar caricaturas da ciência e da religião. Ambos os campos contendores ficavam indignados com as suas intervenções e a sua popularidade aumentava. Tornou-se confidente de presidentes. Excertos dos seus sermões apareciam nas páginas de «Op Ed.» de importantes jornais seculares. Mas ele resistia a muitos convites e a algumas ofertas blandiciosas para fundar uma igreja eletrônica. Continuou a viver simplesmente e raramente — a não ser para aceitar convites presidenciais ou comparecer a congressos ecumênicos — saía do Sul rural. Tirando um patriotismo convencional, tinha por norma não se intrometer na política. Num campo cheio de candidatos competidores entre si, muitos de duvidosa probidade, Palmer Joss tornou-se, em erudição e autoridade moral, o pregador fundamentalista cristão preeminente do seu tempo.


Der Heer perguntara se podiam jantar tranqüilamente em qualquer lado. Chegaria de avião para a sessão sumária com Vaygay e a delegação soviética sobre os mais recentes progressos na interpretação da Mensagem. Mas o Novo México meridional-central estava a rebentar pelas costuras com a imprensa mundial e num raio de mais de cem quilômetros não havia nenhum restaurante onde pudessem falar sem serem observados nem escutados. Por isso, ela própria fez o jantar no seu modesto apartamento, próximo das instalações dos cientistas visitantes na instalação Argus. Havia muito de que falar. Às vezes, parecia que a sorte de todo o projeto estava suspensa de um fio presidencial. Mas o pequeno estremecimento de antecipação que sentiu mesmo antes da chegada de Ken foi ocasionado, como vagamente se apercebeu, por mais do que isso. Joss não era exatamente «serviço» e, assim, acabaram por falar dele enquanto metiam os pratos na máquina de lavar louça.

— O homem está varado de medo — disse Ellie. A sua perspectiva é estreita. Imagina que a Mensagem vai ser exegese bíblica inaceitável ou qualquer coisa que abale a sua fé. Não faz idéia nenhuma do modo como um novo paradigma científico subordina o anterior. Quer saber o que a ciência fez por ele ultimamente. E é considerado a voz da razão.

— Comparado com os Quiliastas do Juízo Final e os Earth-Firsters, Palmer Joss é a alma da moderação — respondeu Der Heer. — Talvez nós não tenhamos explicado os métodos da ciência tão bem como deveríamos. Hoje em dia preocupo-me muito com isso. E, Ellie, pode ter realmente a certeza de que não se trata de uma mensagem de…

— De Deus ou do Demônio? Ken, não está a falar a sério.

— Bem, e quanto a seres avançados empenhados naquilo a que nós poderíamos chamar bem ou mal, que alguém como Joss consideraria indistinguível de Deus ou do Demônio?

— Ken, quem quer que estes seres do sistema Vega sejam, garanto-lhe que não criaram o universo. E não são nada como o Deus do Antigo Testamento. Não se esqueça de que Vega, o Sol e todas as outras estrelas da vizinhança solar se encontram nalgum lugar atrasado de uma galáxia absolutamente enfadonha. Por que haveria Eu Sou Aquele Que Sou de se fixar por aqui? Deve ter coisas mais prementes que fazer.

— Ellie, estamos numa alhada. Sabe que Joss é muito influente. Tem sido íntimo de três presidentes, incluindo a atual. Esta está inclinada a fazer uma certa concessão a Joss, embora eu não pense que queira colocá-lo e a um grupo de outros pregadores na Comissão Preliminar de Decifração, consigo, Valerian e Drumlin — para não falar de Vaygay e dos seus colegas. É difícil imaginar os Russos a concordarem com sacerdotes fundamentalistas na Comissão. Podia ser o suficiente para estragar tudo. Por isso, por que não vamos falar com ele? A presidente diz que Joss se sente verdadeiramente fascinado pela ciência. E se conseguíssemos conquistá-lo para o nosso lado, hem?

— Nós vamos converter Palmer Joss?

— Não estou a pensar em fazê-lo mudar a sua religião. Façamo-lo apenas compreender o que Argus é, que não teremos de responder à Mensagem se não gostarmos do que disser, que as distâncias interestelares nos isolam de Vega.

— Ken, ele não acredita sequer que a velocidade da luz é uma velocidade cósmica limite. Será uma conversa de surdos. Além disso, tenho uma longa história de desaires no tocante a acomodar-me com as religiões convencionais. Tenho tendência para perder a tramontana com as suas incoerências e hipocrisias. Não tenho a certeza de que um encontro entre Joss e mim seja o que você queira. Ou a presidente.

— Ellie, eu sei em quem colocaria o meu dinheiro. Não vejo como encontrar-se com Joss possa tornar as coisas muito piores.

Ela dignou-se retribuir o seu sorriso.


Com os navios rastreadores agora nos sítios devidos e alguns pequenos, mas adequados, radiotelescópios instalados em lugares como Reykjavik e Jacarta, havia uma cobertura redundante do sinal de Vega em todas as faixas de longitude. Estava marcada para Paris uma conferência importante de todo o Consórcio Mundial da Mensagem. A fim de a preparar, era natural que as nações com a maior fração de dados efetuassem uma discussão científica preliminar. Tinham estado reunidos durante a maior parte de quatro dias, e aquela sessão sumária destinava-se principalmente a pôr em dia aqueles que, como Der Heer, serviam como intermediários entre os cientistas e os políticos. A delegação soviética, embora nominalmente chefiada por Lunacharsky, incluía diversos cientistas e técnicos de igual distinção. Entre eles encontravam-se Genrikh Arkhangelsky, recentemente nomeado chefe do consórcio espacial internacional dirigido pelos Soviéticos e chamado Intercosmo, e Timofei Gotsridze, inscrito como ministro da Indústria Meio Pesada e membro do Comitê Central.

Era evidente que Vaygay se sentia sob pressões fora do comum; recomeçara a fumar em cadeia. Segurava o cigarro entre o polegar e o indicador, com a palma da mão virada para cima, enquanto falava:

— Concordo que há sobreposição adequada em longitude, mas continuo preocupado quanto a redundância. Uma falha no liquefator de hélio a bordo do Marshal Nedelin ou uma falta de corrente em Reykjavik, e a continuidade da Mensagem fica em risco. Suponham que a Mensagem demora dois anos a regressar ao princípio. Se nos escapar um bocado, teremos de esperar mais dois anos para preencher a lacuna. E, lembrem-se, não sabemos se a Mensagem será repetida. Se não houver repetição, as lacunas nunca serão preenchidas. Acho que precisamos de planejar até para possibilidades improváveis.

— Em que está a pensar? — perguntou Der Heer. — Alguma coisa como geradores de emergência para todos os observatórios do Consórcio?

— Sim, e amplificadores, espectrômetros, autocorreladores, impulsionadores de discos, etc., independentes para cada observatório. E quaisquer previdências para o transporte aéreo rápido de hélio líquido para observatórios distantes, se necessário.

— Concorda, Ellie?

— Absolutamente.

— Mais alguma coisa?

— Acho que devíamos continuar a observar Vega numa faixa muito larga de freqüências — respondeu Vaygay. — Talvez amanhã chegue uma mensagem diferente através de apenas uma das freqüências da Mensagem. Devíamos também monitorizar outras regiões do céu. Talvez a chave da Mensagem não venha de Vega, mas de qualquer outro lado…

— Deixem-me explicar porque motivo penso que a questão posta por Vaygay é importante — interveio Valerian. — Este é um momento único, uma ocasião em que estamos a receber uma mensagem, mas não fizemos progresso absolutamente nenhum na sua decifração. Não temos qualquer experiência prévia de casos desta natureza. Precisamos de cobrir todas as bases. Não queremos acabar, daqui a um ano ou dois, aos pontapés a nós próprios porque nos esquecemos de tomar qualquer precaução simples ou deixamos escapar qualquer simples medição. A idéia de que a Mensagem reciclará, voltará atrás por si mesma, é a mais mera das suposições. Tanto quanto possamos ver, não há na própria Mensagem nada que prometa uma reciclagem. Quaisquer oportunidades perdidas agora podem ser perdidas para sempre. Também concordo que é necessário fazer mais desenvolvimento instrumental. Por tudo quanto sabemos, o palimpsesto pode ter uma quarta camada.

— Há também a questão do pessoal — continuou Vaygay. — Suponham que esta mensagem continua não durante um ano ou dois, mas sim durante décadas. Ou então que esta é apenas a primeira de uma longa série de mensagens de todos os pontos do céu. Em todo o mundo há, no máximo, uns poucos centos de radioastrônomos verdadeiramente competentes. É um número muito pequeno quando as paradas são tão altas. Os países industrializados devem começar a produzir muitos mais radioastrônomos e radioengenheiros com treino de primeira classe.

Ellie reparou que Gotsridze, que falara pouco, estava a tomar apontamentos pormenorizados. Ficou mais uma vez surpreendida com o fato de os Soviéticos serem muito mais conhecedores do inglês do que os Americanos do russo. Nos inícios do século, cientistas de todo o mundo falavam — ou pelo menos liam — alemão. Antes disso fora francês e antes latim. Dentro de outro século, talvez houvesse outra língua científica obrigatória: o chinês, porventura. De momento era o inglês, e cientistas de todo o planeta esforçavam-se para aprender as suas ambigüidades e irregularidades.

Acendendo um novo cigarro na ponta incandescente do anterior, Vaygay continuou:

— Há alguma coisa mais a dizer. Trata-se apenas de especulação. Nem sequer é tão plausível como a idéia de que a Mensagem reciclará por si mesma — o que, como o professor Valerian sublinhou muito apropriadamente, é apenas uma suposição. Em circunstâncias normais, eu não mencionaria uma idéia tão especulativa numa fase tão inicial. Mas, se a especulação é acertada, há certas outras ações em que temos de começar a pensar imediatamente. Eu não teria a coragem de levantar esta possibilidade se o acadêmico Arkhangelsky não tivesse chegado hesitantemente à mesma conclusão. Ele e eu temos discordado a respeito da quantização dos desvios para vermelho de quasars, da explicação das fontes de luz superluminais, da massa em repouso dos neutrinos, da física quark em estrelas de nêutrons… Temos tido muitas discordâncias. Devo admitir que algumas vezes ele tem tido razão e outras tenho tido eu. Parece-me que quase nunca concordamos no estádio especulativo inicial de um assunto. Mas neste estamos de acordo.

«Genrikh Dmitch, quer explicar?»

Arkhangelsky pareceu tolerante, até mesmo divertido. Ele e Lunacharsky andavam havia anos empenhados numa rivalidade pessoal, em calorosas disputas científicas e numa famosa controvérsia sobre o nível prudente de apoio a dar à investigação soviética da fusão.

— Supomos — declarou — que a Mensagem são as instruções para a construção de uma máquina. Claro que não possuímos nenhum conhecimento quanto à maneira de decifrar a Mensagem. A evidência está em referências internas. Dou-lhes um exemplo. Aqui na página quinze mil quatrocentos e quarenta e um está uma referência clara a uma página anterior, a treze mil e noventa e sete, que, por sorte, também temos. A última página foi recebida aqui no Novo México; a primeira, no nosso observatório perto de Tashkent. Na página treze mil e noventa e sete há outra referência, esta a um período em que não estávamos a cobrir todas as longitudes. Há muitos casos deste tipo de retrorreferência. Em geral, e este é o ponto importante, há instruções complicadas numa página recente, mas instruções mais simples numa página anterior. Num caso há oito citações a material anterior numa única página.

— Isso não é um argumento muitíssimo convincente, rapazes — respondeu Ellie. — Talvez seja um conjunto de exercícios matemáticos em que os recentes se baseiam nos anteriores. Talvez seja um comprido romance — eles podem ter períodos de vida muito extensos comparados com os nossos — em que certos acontecimentos são relacionados com experiências da infância, ou seja lá o que for que têm em Vega quando são novos. Talvez seja um manual religioso cheio de contra-referências herméticas.

— Os Dez Milhares de Milhões de Mandamentos — comentou Der Heer, risonho.

— Talvez — admitiu Lunacharsky, a olhar fixamente pela janela para os telescópios, através de uma nuvem de fumo. Os engenhos pareciam fitar anelantemente o céu. — Mas, quando observar os padrões das contra-referências, creio que concordará que parecem mais o manual de instruções para a construção de uma máquina. Sabe Deus o que ela estará destinada a fazer.

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