Eamon Valda avançava aos poucos pelas ruas lotadas, os passos do capão negro abafados pelo barulho da multidão de Amador. O suor brotava de cada poro, intensificado pelo calor da armadura e da placa peitoral. Os metais haviam sido polidos à perfeição e reluziam mesmo sob a camada de poeira. O calor só aumentava com o manto branco feito a neve estirado sobre a anca larga do cavalo musculoso. Ainda assim, Eamon era tão bom em esconder o incômodo que quem o visse pensaria que aquele era um agradável dia de primavera. Ele se esforçava ao máximo para ignorar as mulheres e os homens sujos que pediam esmola na rua — havia até mesmo crianças —, todos com rostos desolados e roupas desgastadas pela viagem. Até ali havia mendigos. Até ali.
Pela primeira vez na vida, não sentiu seu humor melhorar ante a visão majestosa das grandes muralhas de pedra da Fortaleza da Luz, uma construção inexpugnável cheia de torres e estandartes, o bastião da verdade e da retidão. Desmontou no pátio principal e jogou as rédeas para um Filho, vociferando algumas instruções de como o sujeito deveria cuidar do animal. O rapaz sabia o que fazer, claro, mas Valda precisava descontar a raiva em alguém. Havia homens de manto branco andando apressados por toda parte, todos parecendo muito enérgicos e ativos, apesar do calor intenso. Eamon torcia para que aquela prontidão para resolver as coisas fosse além das aparências.
O jovem Dain Bornhald veio correndo pelo pátio, apertando o punho contra o peitoral em uma saudação animada.
— Que a Luz o ilumine, Milorde Capitão. Fez boa viagem de Tar Valon, espero? — Ele estava com os olhos vermelhos e fedia a conhaque. Não havia desculpa para o sujeito estar bebendo durante o dia.
— A viagem pelo menos foi rápida — grunhiu Valda, descalçando as luvas e enfiando-as no cinturão da espada.
A resposta atravessada não fora motivada pelo cheiro de conhaque, embora fosse repreender o rapaz por conta daquilo. A jornada de fato fora rápida, considerando a distância. Recompensaria a legião com uma noite na cidade assim que os homens acabassem de montar o acampamento ali nos arredores de Amador. A jornada fora rápida, mas ele não estava nada satisfeito com as ordens que o convocaram de volta justo quando uma forte ofensiva poderia ter tombado a Torre, já frágil, e deixado as bruxas enterradas sob os escombros. Ele e seus homens tinham viajado a um passo impressionante, mesmo que cada dia tivesse sido pontuado por notícias ainda piores que as anteriores. Al’Thor em Caemlyn. Não importava que o homem fosse um Dragão falso ou o verdadeiro: era um homem capaz de canalizar, e essa capacidade só existia em Amigos das Trevas. Uma turba de Devotos do Dragão em Altara. Aquele tal de Profeta arrastando sua ralé por Ghealdan e pela própria Amadícia.
Ao menos conseguira matar parte daquela escória, embora fosse difícil enfrentar inimigos que estavam mais dispostos a bater em retirada e se misturar à multidão do que a lutar, gente que conseguia se esconder entre os malditos refugiados, uma turba de errantes desmiolados que pareciam pensar que al’Thor acabara com toda a ordem do mundo. Ah, mas ele encontrara uma solução para aquele desastre, ainda que não tivesse sido totalmente satisfatória. Sua legião deixara as ruas cheias, e os corvos provavelmente comeriam até explodir. Se não podia diferenciar a gentalha do Profeta da multidão imunda de refugiados, então melhor matar qualquer um que obstruísse seu caminho. Os inocentes deveriam ter ficado em suas casas, onde era o lugar deles — o Criador abrigaria os justos, afinal. Para Eamon Valda, os errantes foram apenas as ameixas no bolo.
— Ouvi boatos na cidade de que Morgase está aqui — comentou.
Não acreditava naquilo, ainda mais porque mais da metade dos rumores em Andor especulava sobre quem teria matado Morgase, e então foi uma grande surpresa quando Dain aquiesceu.
A surpresa virou desgosto conforme o jovem ia tagarelando sobre os aposentos de Morgase e as caçadas de que ela participava, sobre quão bem a mulher estava sendo tratada por ali e como Dain achava que ela logo assinaria um acordo com os Filhos. Valda não escondeu a cara de desgosto. Bem, não devia ter esperado coisa melhor de Niall — ele tinha sido um dos melhores soldados de sua época, sempre visto como um grande capitão, mas a velhice acabou amolecendo o homem. Valda se deu conta disso no instante que recebeu as ordens de Senhor Capitão Comandante, em Tar Valon. Niall deveria ter se deslocado até Tear com um batalhão assim que começou o burburinho a respeito de al’Thor, e assim teria conseguido reunir a força necessária durante a marcha. Nações inteiras teriam aderido à marcha dos Filhos contra um falso Dragão. Pelo menos no começo. Agora al’Thor estava em Caemlyn, forte o bastante para assustar os mais covardes. Mas Morgase estava ali. Se Morgase estivesse sob a responsabilidade de Eamon, ela teria assinado aquele acordo logo no primeiro dia, mesmo que alguém precisasse segurar sua mão ao redor da pena. Pela Luz, aquela mulher aprenderia a dar um pinote toda vez que ele a mandasse pular. E caso se recusasse a voltar para Andor com os Filhos, ele a levaria amarrada em um mastro. Ela daria um ótimo estandarte para conduzir a ofensiva até Andor.
Dain foi atrás dele, solícito, sem dúvida esperando um convite para o jantar daquela noite. Como era um oficial mais baixo na hierarquia, ele não podia convidar um mais antigo, porém deixava bem claro que queria conversar com seu velho comandante — sobre Tar Valon, talvez até sobre seu falecido pai. Valda não gostava muito de Geofram Bornhald. O homem era muito mole.
— Encontro você às seis para jantar no acampamento. E quero que esteja sóbrio, Filho Bornhald.
Não restava dúvidas de que Dain Bornhald andara bebendo. O jovem ficou um instante boquiaberto e gaguejou uma resposta sem jeito antes de fazer a saudação e partir. Valda se perguntou o que teria acontecido. Dain tinha sido um bom jovem oficial — ele se preocupava demais com besteiras, como arranjar provas de culpa quando não havia como obtê-las, mas mesmo assim era bom. Não era mole como o pai. Uma pena vê-lo se perder na bebida.
Resmungando sozinho — oficiais bebendo em plena Fortaleza da Luz, mais um sinal de que a influência nefasta de Niall apodrecera todas as maçãs do cesto —, Valda foi até seus aposentos. Pretendia dormir no acampamento, mas um banho quente não seria nada mau.
Um jovem Filho de ombros largos se aproximou de Valda no corredor de pedra bruta, o cajado de pastor escarlate, símbolo da Mão da Luz, despontava por trás do fulgurante sol dourado em seu peito. Sem parar de andar, sem sequer olhar para Valda, o Questionador murmurou, em um tom muito deferente:
— Milorde Capitão talvez devesse visitar o Domo da Verdade.
Valda franziu o cenho. Não gostava de Questionadores — a seu modo, eles até faziam um bom trabalho, mas sempre tivera a sensação de que aqueles homens só optavam pelo cajado para evitar enfrentar um inimigo armado. Ele quase começou a falar, levantando bem a voz para vociferar uma bronca, mas se deteve. Questionadores eram desleixados com a disciplina, mas um reles Filho jamais falaria daquele jeito com um Senhor Capitão sem que houvesse um motivo. Talvez o banho pudesse esperar.
O Domo da Verdade era uma visão maravilhosa, e o lugar enfim o ajudou a recobrar um pouco do bom humor. O exterior da construção era todo branco, e o interior folheado a ouro refletia a luz de mil lampiões pendurados no teto. Espessas colunas brancas sem adornos, polidas até reluzirem, circundavam a câmara, mas o domo propriamente dito se estendia por mais cem passadas sem nenhum suporte e tinha cinquenta passadas de altura no cume, encimando o centro do aposento. Era lá que ficava o estrado simples de mármore branco, apoiado no piso também de mármore branco, onde o Senhor Capitão Comandante dos Filhos da Luz se posicionava, de pé, para se dirigir aos Filhos nas reuniões mais solenes, nas cerimônias mais sérias. Um dia, ele ficaria ali, de pé. Niall não viveria para sempre.
Dezenas de Filhos perambulavam pela enorme câmara — era mesmo uma visão maravilhosa, embora ninguém além dos Filhos jamais pudesse aproveitá-la. Bem, não recebera um chamado para admirar o Domo. Disso tinha certeza. Por trás das grandes colunas havia fileiras de colunas menores, tão simples e tão bem polidas quanto as maiores, além de nichos imensos onde afrescos de mais de mil anos ilustravam cenas de triunfos dos Filhos. Valda percorreu o aposento, observando cada reentrância. Enfim notou o homem alto e agrisalhado examinando uma das pinturas — Serenia Latar sendo conduzida ao cadafalso; a única Amyrlin que os Filhos conseguiram enforcar. A mulher já estava morta na ocasião, claro, até porque é difícil conseguir enforcar uma bruxa viva, mas não era esse o ponto. Seiscentos e noventa e três anos antes, a justiça havia sido feita de acordo com a lei.
— Algum problema, meu filho? — A voz era suave, quase mansa.
Valda se enrijeceu um pouco. Rhadam Asunawa até podia ser o Grão-inquisidor, mas ainda era um Questionador. E Valda era um Senhor Capitão, Ungido pela Luz, não alguém a ser tratado como “meu filho”.
— Não que eu tenha percebido — respondeu, sem rodeios.
Asunawa suspirou. Seu rosto abatido era um retrato do sofrimento de um mártir, e o suor poderia ter passado por lágrimas, mas seus olhos profundos pareciam arder com o calor que cozinhara toda a carne que lhe faltava nas bochechas. Em seu manto havia apenas o desenho do cajado, sem nenhum sol reluzente, como se ele não fizesse parte dos Filhos — ou, talvez, como se estivesse acima de todos.
— Vivemos tempos confusos. A Fortaleza da Luz abriga uma bruxa.
Valda se conteve para não lançar um olhar irônico ao outro homem. Covardes ou não, os Questionadores podiam ser perigosos até para um Senhor Capitão. Aquele ali talvez jamais conseguiria enforcar uma Amyrlin, mas decerto sonhava em ser o primeiro a enforcar uma rainha. Valda não se importava se Morgase morreria ou não, desde que antes pudesse arrancar toda e qualquer serventia da mulher. Optou por simplesmente não responder, e as espessas sobrancelhas grisalhas de Asunawa baixaram, aumentando a cavidade de seus olhos até eles parecerem espreitar de dentro de cavernas escuras.
— Vivemos tempos confusos — repetiu — e não podemos permitir que Niall destrua os Filhos da Luz.
Valda ficou longos minutos parado, examinando a pintura. Talvez o artista tivesse sido bom, talvez não — não entendia nada daquelas coisas e ligava para isso menos ainda. Bem, o sujeito fizera um trabalho decente com as armas e armaduras dos guardas, e a corda e o cadafalso pareciam reais. Daquilo ele entendia.
— Estou pronto para ouvir — declarou, por fim.
— Então vamos conversar, meu filho. Mais tarde, quando houver menos olhos para ver e menos ouvidos para ouvir. Que a Luz o ilumine, meu filho.
Asunawa saiu andando sem mais uma palavra, o manto branco ondulando de leve, os passos ecoando tão alto pelo aposento que parecia que o homem estava tentando cravar as botas nas pedras. Alguns dos Filhos se curvaram em profundas reverências quando ele passou.
De uma janela estreita bem acima do pátio, Niall ficou olhando enquanto Valda desmontava, falava com o jovem Bornhald e saía a passos firmes e irritados. Valda sempre estava irritado. Se houvesse como convocar os Filhos que estavam em Tar Valon e deixar Valda por lá, Niall teria feito isso alegremente. O homem até era um comandante de batalha competente, mas era mais talhado para lidar com multidões em polvorosa. Sua única ideia de tática era a investida, e sua estratégia… também era a investida.
Balançando a cabeça, Niall seguiu para a câmara de audiências. Tinha assuntos mais importantes que Valda com que se preocupar. Morgase ainda resistia, firme feito um exército com vantagem territorial, água de sobra e moral elevado. A mulher se recusava a admitir que estava encurralada em um vale sem saída e que seu inimigo é que tinha a vantagem do terreno mais elevado.
Balwer se levantou da escrivaninha assim que Niall entrou na antessala.
— Omerna veio aqui, milorde. Deixou isto. — O homem indicou um maço de papéis amarrados com fita vermelha sobre a mesa. — E isto. — Ele estreitou os lábios finos quando tirou do bolso um minúsculo cilindro de osso.
Resmungando, Niall pegou o tubo e foi para a câmara interna. Por algum motivo misterioso, Omerna estava mais inútil a cada dia. Deixar os relatórios com Balwer já era ruim o bastante, a despeito das bobagens que decerto continham, mas até aquele maldito sabia muito bem que não deveria entregar nenhum daqueles tubos com três listras vermelhas a ninguém que não o próprio Niall. Analisou o tubo à luz de um lampião para examinar o lacre de cera — intacto. Abriu o lacre com a unha do polegar. Precisava ter uma conversa muito séria com Omerna, deixar o sujeito com tanto medo que ele imploraria para ser incendiado pela Luz. O imbecil não seria um bom disfarce para o verdadeiro chefe da espionagem se ao menos não tentasse fazer o trabalho da melhor maneira que podia.
Era outra mensagem de Varadin, naquela cifra secreta de Niall escrita em garranchos finos, cobrindo a tira de papel bem fino. Quase queimou a mensagem sem ler, até que um detalhe bem no fim do bilhete lhe chamou a atenção. Voltando ao começo dos garranchos, foi decifrando a cifra de memória. Queria ter certeza absoluta. Era o mesmo de sempre, alguma baboseira sobre Aes Sedai presas em coleiras e estranhas criaturas, até que, bem no fim… Varadin tinha ajudado Asidim Faisar a encontrar um esconderijo em Tanchico. Mais tarde ele tentaria tirar Faisar da cidade sem ser reconhecido, mas os Predecessores estavam mantendo uma guarda tão cuidadosa que nem um sussurro passava pelas muralhas sem permissão.
Niall esfregou o queixo, absorto. Faisar era um dos homens que enviara a Tarabon para ver se ainda poderiam salvar alguma coisa por lá. Faisar não sabia de Varadin, que também não deveria saber nada a respeito de Faisar. Os Predecessores mantinham uma guarda tão cuidadosa que nem um sussurro passaria pelas muralhas. Garranchos de um louco.
Ele enfiou o papel no bolso e voltou para a antessala.
— Balwer, qual é a última notícia do oeste?
Entre eles, “oeste” sempre significava a fronteira com Tarabon.
— Nenhuma mudança, milorde. As patrulhas que chegam bem a fundo no território de Tarabon não conseguem voltar. O pior problema perto da fronteira são os refugiados tentando atravessar.
Patrulhas que chegavam bem a fundo. Tarabon era uma cova cheia de víboras venenosas e ratos infectados, mas…
— Em quanto tempo você conseguiria mandar um mensageiro a Tanchico?
Balwer nem pestanejou. Ele não pareceria surpreso nem mesmo se algum dia seu cavalo começasse a falar com ele.
— O problema é arranjar cavalos novos depois que o mensageiro cruzar a fronteira, milorde. Em circunstâncias normais eu diria vinte dias para ir e voltar, talvez um pouco menos, num passo bom. Mas agora é o dobro disso, e se tivermos sorte. Talvez seja o dobro só para chegar em Tanchico.
Aquela cidade era uma cova que poderia engolir um mensageiro. Nem os ossos seriam encontrados
Bem, o sujeito não precisaria voltar, mas Niall guardou a informação só para si.
— Mande providenciarem um homem, Balwer. A carta estará pronta em uma hora. Eu mesmo vou falar com o mensageiro.
Balwer assentiu com uma mesura, mas também esfregou as mãos no manto, ofendido. Que ficasse. Havia uma chance muito pequena de concretizar aquilo sem expor Varadin — precaução desnecessária se o homem fosse mesmo insano, claro, mas se não fosse… Revelar a identidade do espião não aceleraria as coisas.
De volta à câmara de audiência, Niall analisou a mensagem de Varadin outra vez antes de tocar o papel na chama de uma lamparina e vê-lo se queimar. Amassou as cinzas entre os dedos.
O Senhor Capitão Comandante dos Filhos da Luz sempre seguia quatro regras para lidar com as informações que recebia: nunca fazer planos sem saber o máximo possível sobre o inimigo, nunca hesitar em mudar os planos quando surgisse uma nova informação, nunca acreditar que sabia tudo e nunca esperar até saber tudo. Quem espera até saber tudo fica sentado na tenda enquanto o inimigo ateia fogo na lona. Niall respeitava suas próprias regras. Só as deixara de lado uma vez na vida, seguindo uma intuição — tinha sido em Jhamara, onde, por nenhuma razão além de uma comichão no fundo da mente, destacara um terço do exército para vigiar montanhas que todos diziam serem intransponíveis. Enquanto manobrava o restante das forças para esmagar os murandianos e altaranos, um exército illianense que supostamente estava a cem milhas dali se abateu sobre o destacamento, vindo daquelas passagens “intransponíveis”. Só pôde bater em retirada sem ser esmagado por ter seguido aquela “intuição”. E ali estava, outra vez, a mesma comichão.
— Eu não confio nele — declarou Tallanvor com firmeza. — Ele me lembra um jovem trapaceiro que encontrei certa vez em um festival, o camarada tinha uma cara de bebê inocente, conseguia olhar qualquer um nos olhos e ainda sorrir enquanto escondia a carta marcada na manga.
Daquela vez, Morgase achou até fácil controlar o gênio. O jovem Paitr tinha relatado que o tio finalmente conseguiria dar um jeito de tirá-la sem ser vista da Fortaleza da Luz — ela e os outros. Os outros é que tinham sido o problema até então. Já fazia um tempo que Torwyn Barshaw declarara que conseguiria tirá-la de lá sozinha, mas Morgase não deixaria seus companheiros para trás, à mercê dos Mantos-brancos. Não deixaria nem mesmo Tallanvor.
— Compreendo que você se sinta assim — respondeu ela de forma indulgente. — Só não vá deixar que esses sentimentos atrapalhem. Algum ditado que se encaixe nessa situação, Lini? Algo que possa ajudar o jovem Tallanvor a lidar com seus sentimentos? — Luz, por que sentia tanto prazer em provocá-lo? O homem estava sempre a um passo da traição, mas ela era sua rainha, não… Recusava-se a concluir o pensamento.
Lini estava sentada perto das janelas, onde enrolava um novelo de lã azul da meada embolado nas mãos de Breane.
— Paitr me lembra aquele rapaz que foi ajudante de cavalariço um pouco antes de você ir para a Torre Branca. Aquele que engravidou duas moças e foi pego tentando fugir da mansão com uma saca cheia das pratarias da sua mãe.
Morgase comprimiu o maxilar, mas nada estragaria sua diversão, nem mesmo o olhar de Breane, que parecia achar que também devia ter permissão de opinar. Paitr se deleitara com a fuga iminente de Morgase — em parte, claro, porque parecia esperar algum tipo de recompensa do tio, ou ao menos era o que dava a entender com alguns de seus comentários, algo sobre se redimir de um fracasso em casa. Bem, o jovem só faltou sair dançando quando Morgase concordou com o plano que tiraria todos da Fortaleza naquele mesmo dia e os veria fora de Amador no pôr do sol do dia seguinte. Iriam para longe de Amador, a caminho de Ghealdan, onde arranjariam soldados que não tentariam tirar vantagem de Andor. Dois dias antes, o próprio Barshaw tinha ido discutir o plano com ela. O sujeito narigudo e atarracado viera disfarçado de um lojista que fazia a entrega de agulhas de tricô e um novelo — o homem tinha olhar colérico e boca zombeteira, mas suas palavras saíram com um respeito satisfatório. Difícil acreditar que aquele era tio de Paitr, sendo os dois tão diferentes, e ainda mais difícil aceitar que o homem era mercador. Ao fim das contas, o plano era de uma simplicidade maravilhosa, ainda que não fosse muito digno, e só precisava de uma quantidade suficiente de gente no exterior da Fortaleza para dar certo. Morgase sairia da Fortaleza da Luz enterrada no fundo de uma carroça cheia de refugos da cozinha.
— Agora vocês todos já sabem o que fazer — anunciou. Contanto que ela permanecesse em seus aposentos, seus acompanhantes podiam se deslocar com uma liberdade considerável, e tudo dependia disso. Bem, nem tudo, mas todas as fugas que não a dela. — Lini, você e Breane têm que estar no quintal da lavanderia quando o sino soar a hora mais alta. — Lini aquiesceu, complacente, mas Breane apenas a encarou, em silêncio, com um olhar de reprovação. Já tinham repassado aquilo quase vinte vezes. Ainda assim, Morgase não permitiria que alguém acabasse sendo deixado para trás por algum erro bobo. — Tallanvor, você deixará a espada para trás e vai esperar na estalagem chamada O Carvalho e o Espinho. — O homem abriu a boca para protestar, mas ela se antecipou, firme. — Já ouvi suas argumentações. Você vai conseguir outra espada. Se deixar a arma aqui, vão pensar que você pretende voltar. — Tallanvor fez cara feia, mas assentiu. — Lamgwin vai esperar na estalagem A Cabeça Dourada, e Basel na…
Uma breve batidinha na porta, e ela se abriu o suficiente para dar acesso à cabeça quase careca de Basel.
— Minha Rainha, tem um homem… um Filho… — Ele olhou por cima do ombro, para o corredor. — É um Questionador, minha Rainha.
Tallanvor levou as mãos ao punho da espada, claro, e só as tirou de lá depois de Morgase gesticular duas vezes e olhar de cara feia para ele.
— Deixe-o entrar.
Conseguiu manter a voz calma, mas sentia um frio tão intenso na barriga que era como se tivesse engolido um bloco de gelo. Um Questionador? Será que a situação estava prestes a piorar com a mesma rapidez com que começara a melhorar?
Um sujeito alto de nariz aquilino empurrou Basel para fora do caminho e fechou a porta na cara dele. O tabardo branco e dourado com o cajado carmesim despontando no ombro indicava sua patente de Inquisidor. Morgase não conhecia Einor Saren pessoalmente, mas já tinham apontado o sujeito para ela na rua. Ele projetava uma segurança inabalável.
— Você foi convocada pelo Senhor Capitão Comandante — anunciou o sujeito, tranquilo. — Você virá agora mesmo.
Os pensamentos de Morgase se tornaram um turbilhão. Já estava acostumada a ser convocada — Niall nunca ia até ela, agora que a tinha como refém na Fortaleza —, chamada a comparecer perante o homem para mais um falatório sobre seu dever para com Andor ou para o que supostamente seria uma conversa amigável em que Niall tentaria provar que só estava agindo de acordo com os interesses dela e de Andor. Estava acostumada com isso, mas não com aquele tipo de mensageiro. Se estivesse sendo entregue aos Questionadores, não haveria subterfúgios: Asunawa enviaria homens suficientes para arrastá-la dali e levar todos os seus companheiros junto. Morgase falara brevemente com o líder dos Questionadores, e o homem lhe dera calafrios. Por que tinham enviado um Inquisidor para convocá-la? Expôs sua dúvida, e Saren respondeu com o mesmo tom de voz gélido.
— Eu estava com o Senhor Capitão Comandante e já ia passar aqui perto. Já terminei o que tinha que fazer, agora vou levá-la até ele. A senhora é uma rainha, afinal, e merece o devido respeito. — O homem falou aquilo tudo com um ar meio aborrecido, um tanto impaciente, até que no final um quê de zombaria e ironia brotou em sua voz, que em nenhum momento perdeu a frieza.
— Muito bem — concordou ela.
— Devo acompanhar minha rainha? — Tallanvor fez uma mesura formal. Ao menos demonstrava deferência quando havia alguém de fora por perto.
— Não. — Levaria Lamgwin em vez dele. Não, nada disso: levar qualquer um dos homens faria parecer que Morgase achava que precisava de guarda-costas. Saren a apavorava quase tanto quanto Asunawa, mas não permitiria que o homem notasse nem o menor sinal de seu receio. A rainha abriu um sorriso casual e tolerante. — Tenho certeza de que não preciso de nenhuma proteção aqui.
Saren também sorriu, ou ao menos sua boca se abriu em um sorriso. Mas parecia estar rindo dela.
Do lado de fora, quando Basel e Lamgwin lhe lançaram olhares temerosos, Morgase quase mudou de ideia quanto a levar um acompanhante. E teria mesmo mudado, se não tivesse se pronunciado contra lá dentro. Bem, dois homens não tinham como protegê-la, se aquilo de fato fosse alguma armadilha, e mudar de ideia seria uma demonstração de fraqueza. E ela com certeza se sentiu fraca enquanto avançava pelos corredores de pedra ao lado de Saren, não parecia em nada com uma rainha. Não mesmo. Talvez gritasse como uma pessoa qualquer, se os Questionadores a trancassem em suas masmorras — bem, não havia talvez nesse caso. Não era tola o bastante para acreditar que a carne da realeza era diferente de qualquer outra, numa situação como aquela. Ainda assim, seria quem era enquanto a situação permitisse. Usando toda a sua força de vontade, tratou de ignorar o bloco de gelo na barriga.
Saren a conduziu até um pequeno pátio de lajotas, onde homens de peito nu golpeavam postes de madeira com a espada.
— Aonde vamos? — perguntou ela. — Este não é o mesmo caminho que fiz das outras vezes para o gabinete do Senhor Capitão Comandante. Ele está em outro lugar?
— Eu peguei o caminho mais curto — retrucou o homem, com aspereza. — Tenho assuntos mais importantes para tratar do que… — Ele não concluiu a frase e nem diminuiu o passo.
Morgase não teve opção senão segui-lo corredor adentro, passando por fileiras de quartos compridos cheios de catres estreitos e homens, a maioria de peito nu ou vestindo ainda menos. Manteve os olhos fixos nas costas de Saren, formulando as frases duras que pretendia dizer a Niall. Eles cruzaram o pátio de um estábulo, o ar fedendo a cavalos e esterco, onde um ferrador manipulava as patas dos cavalos a um canto; depois percorreram mais um corredor de casernas; depois outro, onde as cozinhas de um dos lados emanavam um forte aroma de ensopado no fogo; até que chegaram a outro pátio… Morgase ficou paralisada.
Um cadafalso alto e comprido repousava no centro do pátio. Três mulheres e mais de dez homens estavam sobre ele, as mãos e os pés atados, nós apertados em volta dos pescoços. Alguns choravam copiosamente, mas a maioria apenas parecia aterrorizada. Os dois últimos homens na extremidade oposta eram Torwyn Barshaw e Paitr — o garoto estava só de camisa, em vez do casaco vermelho e branco que Morgase mandara fazer especialmente para ele. Paitr não estava chorando, mas seu tio, sim. Paitr parecia horrorizado demais para as lágrimas.
— Pela Luz! — bradou um oficial Manto-branco, e outro empurrou uma alavanca comprida na ponta do cadafalso.
Os alçapões abaixo de cada pessoa se abriram com estalos ruidosos, e as vítimas sumiram de vista. Algumas das cordas estiradas tremeram enquanto os homens e as mulheres nas extremidades se engasgavam e perdiam a vida, sem a piedade da morte rápida por um pescoço quebrado. Paitr foi uma das mortes lentas — e a fuga tão bem orquestrada de Morgase morria com ele. Talvez devesse ter ficado tão preocupada com o rapaz quanto estava por si própria, mas só conseguia pensar na fuga, na saída da armadilha em que ela própria se metera. Estava presa, e Andor estava ali junto com ela.
Saren a encarava e estava óbvio que esperava que a rainha fosse desmaiar ou vomitar.
— Tanta gente de uma só vez? — perguntou, orgulhosa do equilíbrio em sua voz.
A corda de Paitr parara de se agitar, só balançava devagar para um lado e para o outro. Não haveria fuga.
— Enforcamos Amigos das Trevas todos os dias — respondeu Saren, seco. — Em Andor você talvez os liberte depois de um simples sermão. Nós não somos indolentes.
Morgase retribuiu o olhar do homem. O caminho mais curto, é? Então aquela era a nova tática de Niall: não ficou surpresa por não ouvir nenhuma menção ao seu plano de fuga, o Senhor Capitão Comandante era sutil demais para isso. Morgase era uma hóspede de honra, e Paitr e seu tio tinham sido enforcados por acaso por algum crime que nada tinha a ver com sua presença ali. Quem seria o próximo a ir para a forca? Lamgwin ou Basel? Lini ou Tallanvor? Estranho, mas pensar em Tallanvor com uma corda no pescoço doía ainda mais que pensar em Lini na mesma situação. A mente pregava peças bem peculiares. Vislumbrou Asunawa por cima do ombro de Saren, encarando-a de uma janela que dava para o cadafalso. Olhando diretamente para ela. Talvez aquilo fosse obra dele, não de Niall. Não fazia diferença. Não podia permitir que sua gente morresse à toa. Não podia permitir que Tallanvor morresse. Peças bem peculiares, mesmo, as que a mente pregava.
Arqueando a sobrancelha em uma expressão de deboche, ela declarou, em uma voz suave e nem um pouco afetada pelo que acabara de ver:
— Se a cena o deixou de pernas bambas, acho que podemos esperar até você recobrar suas forças.
Que a Luz permitisse que não vomitasse.
Saren fechou a cara, deu meia-volta e saiu andando. Morgase o seguiu em um passo imponente, sem olhar para a janela de Asunawa e tentando não pensar no cadafalso.
Talvez fosse mesmo o caminho mais curto, já que, no corredor seguinte, Saren a conduziu por lances de escada bem íngremes que a deixaram na câmara de audiências de Niall mais depressa do que ela se lembrava de ter chegado nas outras vezes. Como de costume, Niall não se levantou e não havia cadeira para ela, de forma que era obrigada a ficar de pé diante dele, feito uma peticionária. O homem parecia distraído, sentado em silêncio, encarando-a sem parecer enxergá-la.
Niall vencera, mas não estava nem olhando para ela. Ficou irritada com aquilo. Luz, o homem tinha vencido. Talvez devesse voltar para seus aposentos. Se mandasse Tallanvor, Lamgwin e Basel a tirarem de lá à força, os homens tentariam. Iam morrer, assim como ela. Morgase jamais empunhara uma espada, mas, se desse essa ordem absurda, pegaria em uma. Ela morreria, e Elayne ocuparia o Trono do Leão — assim que al’Thor fosse tirado de lá, claro. A Torre Branca cuidaria para que Elayne ficasse com o que era dela. A Torre. Se a Torre garantisse o trono para sua filha… Parecia loucura, mas confiava ainda menos na Torre do que em Niall. Não, precisava salvar Andor por conta própria. Mas haveria um preço. E esse preço devia ser pago.
Teve que forçar as palavras a saírem:
— Estou pronta para assinar seu acordo.
Niall nem pareceu ouvir. Então piscou e, logo depois, de repente, soltou uma risada irônica e balançou a cabeça. Aquilo também a irritou. Fingir surpresa. Não tinha tentado fugir. Era uma hóspede. Como queria ver aquele homem pendurado no cadafalso.
O Senhor Capitão Comandante agiu tão depressa que Morgase quase duvidou de sua apatia de momentos antes. Em poucos instantes, mandou entrar o secretário caquético, trazendo um longo pergaminho com tudo já escrito e até uma cópia do selo de Andor — tão bem-feita que nem ela conseguiria distinguir do selo original.
Mesmo não tendo escolha sobre assinar ou não, fez questão de ler os termos: não havia nada diferente do que esperara. Niall lideraria os Mantos-brancos na retomada do trono, mas havia um preço, ainda que no acordo não fosse apresentado desta maneira: mil Mantos-brancos se aquartelariam em residência permanente em Caemlyn, com seus próprios tribunais e sem se sujeitar à lei de Andor, além de a ordem de Mantos-brancos passar a ser considerada igual à Guarda da Rainha e com o mesmo poder por toda Andor. Poderia levar a vida inteira para desfazer aquele acordo, e também a vida de Elayne, mas a alternativa era al’Thor levar o Trono do Leão como troféu. Se alguma mulher voltasse a reinar ali, seria Elenia, Naean ou alguém dessa estirpe, e apenas como fantoche de al’Thor. Era isso ou Elayne como fantoche da Torre, e não conseguia se convencer de que podia confiar na Torre.
Assinou seu nome com caligrafia precisa e pressionou o Selo falso na cera vermelha que o secretário de Niall pingou ao pé da página. O Leão de Andor cercado pela Coroa de Rosas. Pronto, era a primeira rainha a aceitar soldados estrangeiros em solo andoriano.
— As legi…? — A pergunta saiu com mais dificuldade do que imaginara. — As legiões partirão em quanto tempo?
Niall hesitou, encarando a mesa à frente. Não havia nada ali além de caneta e tinta, uma tigela de pó de pedra-pomes e um toco de cera de selagem recém-queimado, como se ele tivesse acabado de escrever uma carta. O homem rabiscou a própria assinatura no acordo e gravou seu selo, um sol fulgurante em cera dourada, então entregou o pergaminho para o secretário.
— Guarde na sala de documentação, Balwer. E receio que eu não vá conseguir avançar tão rápido quanto esperava, Morgase. Preciso considerar algumas questões que vêm se desenrolando. Mas não precisa se preocupar. É só uma questão de como se deslocar melhor nas áreas que não têm relação com Andor. Insisto que veja esse pequeno adiamento apenas como um tempo a mais para que eu possa desfrutar de sua companhia.
Balwer fez uma reverência graciosa, ainda que um tanto austera, mas Morgase teve a impressão de que o homem estivera prestes a encarar Niall com alguma surpresa. Ela mesma por pouco não ficou boquiaberta. O homem a pressionara sem parar desde que ela chegara ali, mas agora tinha outras questões a considerar? Balwer saiu apressado, como se temesse que Morgase fosse tentar pegar o documento de volta e rasgá-lo, mas não poderia estar mais enganado. Ao menos não haveria mais enforcamentos. Tudo o mais seria resolvido quando fosse possível. Um passo de cada vez. Sua resistência tenaz acabara falhando, mas agora tinha tempo de novo — o tempo era uma dádiva inesperada que não podia ser desperdiçada. Então ele queria o prazer de sua companhia?
Morgase abriu um sorriso caloroso.
— Eu sinto como se tivesse tirado um grande um peso dos meus ombros. Ora, o senhor joga pedras?
— Sou conhecido como um jogador razoável. — O sorriso em resposta foi primeiro de surpresa, depois de animação.
A rainha ruborizou, mas conseguiu se controlar para não demonstrar raiva. Talvez fosse melhor Niall achar que a tinha derrotado. Ninguém vigiava um inimigo combalido com tanta atenção nem o mantinha em tão alta conta, e, se ela tomasse cuidado, poderia começar o processo de recuperar aquilo de que abrira mão antes mesmo de os soldados de Niall deixarem Amadícia. Morgase tivera um excelente professor no Jogo das Casas.
— Bem, tentarei não ser uma adversária tão ruim, caso o senhor aceite jogar.
Ela era bem mais que razoável no jogo das pedras, e talvez fosse até mais que uma boa jogadora, mas teria que perder, claro. Bem, não podia perder tão feio a ponto de deixá-lo entediado. Odiava perder.
Franzindo o cenho, Asunawa tamborilava os dedos no braço coberto de douraduras da cadeira. Acima de sua cabeça, no espaldar, fora entalhado um cajado de pastor trabalhado em laca brilhante sobre um disco branco.
— A bruxa ficou surpresa — murmurou.
Saren respondeu como se aquilo fosse uma acusação.
— Os enforcamentos afetam mesmo algumas pessoas. Aqueles Amigos das Trevas foram apanhados ontem, pelo que ouvi estavam entoando algum catecismo para a Sombra quando Trom arrombou a porta. Eu até perguntei aos Filhos que os capturaram, mas ninguém pensou em tentar descobrir se algum deles tinha relação com ela. — Pelo menos o homem conseguiu evitar remexer os pés, permanecendo com uma postura tão ereta quanto era apropriado para um integrante da Mão da Luz.
Asunawa dispensou as explicações com um discreto aceno. Claro que não havia relação entre ela e aqueles condenados à forca, afora o fato de que Morgase era uma bruxa e aqueles eram Amigos das Trevas. A bruxa estava na Fortaleza da Luz, afinal. Ainda assim, estava incomodado.
— Niall me mandou buscá-la como se eu fosse um cachorro — reclamou Saren. — Quase vomitei tudo o que tinha no estômago só por estar tão perto de uma bruxa. Minhas mãos chegaram a tremer de vontade de agarrar a garganta da maldita.
Asunawa não seu deu ao trabalho de responder e mal escutou. Claro que Niall odiava a Mão. A maioria dos homens odiava o que temia. Não, seus pensamentos estavam voltados para Morgase. A mulher não era fraca, não mesmo. Tinha conseguido se defender bem de Niall, e ainda mais quando a maioria teria desabado logo depois de entrar na Fortaleza. A mulher arruinaria parte dos planos dele se acabasse se mostrando fraca, afinal. Já tinha todos os detalhes na cabeça, cada dia do julgamento dela, com embaixadores de cada terra que ainda era capaz de enviar um, até que Morgase enfim fizesse sua confissão dramática, arrancada com tamanha habilidade que ninguém encontraria nenhum vestígio em seu corpo. Então viriam as cerimônias da execução. Um cadafalso especial só para ela, a ser preservado posteriormente para marcar a ocasião.
— Vamos torcer para que ela continue resistindo a Niall — afirmou, abrindo um sorriso que alguns definiriam como brando e devoto. Nem mesmo a paciência de Niall poderia durar para sempre. Ao final, ele teria que entregá-la à justiça.