11

Ellie estava fascinada com as estatuetas de porcelana. Pegou uma, de uma moça vestida com um leve traje de balé, e virou-a em suas mãos. “Olhe só isso, Benjy”, disse ela ao irmão. “Alguém fez isso — sozinho.”

“Essa, na verdade, é uma cópia”, disse o espanhol dono da loja, “mas um artista realmente fez o original, do qual o computador fez a cópia. O processo de reprodução é tão preciso hoje em dia que até mesmo os especialistas têm dificuldade em saber quais são as cópias.”

“E você colecionou todos esses lá na Terra?”, Ellie mostrou com a mão cerca de cem estatuetas que estavam sobre a mesa ou em pequenas vitrines.

“Sim, senhora”, disse o sr. Murillo com orgulho. “Embora fosse funcionário público em Sevilha — licenças para construção e coisas no gênero — minha mulher e eu também tínhamos uma pequena loja. Nos apaixonamos por porcelana há cerca de dez anos e temos colecionado com avidez desde então.”

A sra. Murillo, também beirando os cinqüenta, apareceu vindo de uma sala nos fundos, onde continuava a desempacotar mercadorias. “Decidimos”, disse ela, “muito antes de sabermos que havíamos realmente sido escolhidos como colonizadores da AEI, que por mais restritivas que fossem as instruções sobre bagagem para a viagem na Nina, haveríamos de trazer toda a nossa coleção de porcelana conosco.”

Benjy estava segurando uma dançarinazinha a poucos centímetros de seu rosto. “Be-le-za”, disse ele com um largo sorriso.

“Obrigado”, disse o sr. Murillo. “Esperávamos poder começar uma sociedade de colecionadores na Colônia Lowell. Três ou quatro outros passageiros da Nina também trouxeram várias peças.”

“Podemos olhar?”, perguntou Ellie. “Teremos o maior cuidado.”

“Por favor”, disse a sra. Murillo. “Eventualmente, quando já estiver tudo organizado, nós iremos vender ou trocar algumas peças — certamente as duplicatas. No momento estão expostas só para serem apreciadas.”

Enquanto Ellie e Benjy examinavam as obras em porcelana, várias outras pessoas entraram na loja. Os Murillos tinham aberto seu negócio fazia apenas poucos dias. Vendiam velas, guardanapos enfeitados, e outros pequenos adornos para casa.

“Você não perdeu tempo, Carlos”, disse um americano fortão, alguns minutos mais tarde. Por sua saudação inicial, percebia-se que também viajara na Nina.

“Foi mais fácil para nós, Travis”, disse o Sr. Murillo. “Não temos família e só precisamos de um lugar pequeno para morar.”

“Nós ainda nem sequer nos instalamos em uma casa”, queixou-se Travis.

“Vamos com certeza morar nesta aldeia, mas Chelsea e as crianças não conseguem encontrar uma casa de que todos gostem… Chelsea continua muito desconfiada com tudo isto aqui, pois acha que a AEI não está dizendo a verdade nem agora.”

“Confesso que é muito difícil aceitar que esta estação espacial tenha sido construída por alienígenas só para eles nos observarem… e seria mais fácil acreditar na história da AEI se tivéssemos fotos do tal Nodo. Mas por que haveriam eles de mentir para nós?”

“Já mentiram antes. Ninguém jamais falou deste lugar a não ser um dia antes de nossa chegada… Chelsea acredita que somos parte de uma experiência em colonização espacial da AEI. Diz que vamos ficar aqui um pouco, e depois seremos transferidos para a superfície de Marte, para que os dois tipos de colônia possam ser comparados.” O sr. Murillo riu-se. “Já vi que Chelsea não mudou nada desde que deixamos a Nina.” E continuou, mais sério: “Sabe, Juanita e eu também tivemos nossas dúvidas, especialmente depois que a primeira semana se passou sem que víssemos qualquer sinal dos alienígenas. Passamos dois dias andando por aí, conversando com outras pessoas — em essência, realizamos nossa própria investigação. E finalmente concluímos que a história da AEI tem de ser verdadeira. Em primeiro lugar, é estapafúrdia demais para ser mentira; em segundo, aquela Wakefield foi muito convincente. Na reunião aberta ela respondeu perguntas durante quase duas horas e nem Juanita e nem eu conseguimos detectar uma só incoerência.”

“É difícil imaginar que alguém possa dormir por doze anos”, disse Travis, sacudindo a cabeça.

“É claro. Para nós também. Mas nós fomos inspecionar o sonário onde a família Wakefield supostamente dormiu. Tudo era exatamente como Nicole descrevera na reunião. O edifício em si, aliás, é imenso. Há beliches suficientes para abrigar todo mundo na colônia, se necessário… Não faria muito sentido a AEI construir uma instalação daquele porte só para consubstanciar uma mentira.”

“Talvez você tenha razão.”

“De qualquer modo, nós resolvemos levar tudo da melhor maneira. Ao menos por agora. E ninguém pode se queixar das condições de vida. Todas as moradias são de primeira ordem. Juanita e eu temos até nosso próprio robô Lincoln para dar uma mãozinha em casa e na loja.”

Ellie estava seguindo a discussão com grande atenção. Lembrava-se do que a mãe lhe havia dito na véspera, à noite, quando lhe perguntara se ela e Benjy poderiam ir dar um passeio pela aldeia. “Acho que sim, querida”, disse Nicole, “mas se alguém reconhecer você como uma Wakefield e começar a fazer muitas perguntas, não diga nada. Seja cortês, depois volte para casa o mais depressa possível. O sr. MacMillan não nos quer conversando com quem não for da equipe da AEI por enquanto.”

Enquanto Ellie estava admirando as estuetas de porcelana e ouvindo atentamente a conversa entre o sr. Murillo e o homem chamado Travis, Benjy saiu caminhando sozinho. Quando Ellie se deu conta de que ele não estava a seu lado, começou a entrar em pânico.

“O que é que você está olhando, menino?”, Ellie ouviu uma voz ríspida de homem, do outro lado da loja.

“O ca-belo de-la é muito bo-nito”, respondeu Benjy. Ele estava atravancando a passagem, impedindo que o casal avançasse. Ele sorriu e estendeu a mão na direção da bela cabeleira loura da mulher. “Eu posso pegar nele?”, perguntou.

“Está maluco?… Claro que não… E agora sai do…”

“Jason, eu acho que ele é retardado”, disse a mulher, baixo, segurando a mão do marido antes que ele empurrasse Benjy.

Nesse momento, Ellie chegou perto do irmão. Compreendendo que o homem estava zangado, não sabia o que fazer. Empurrou ligeiramente o ombro de Benjy. “Olha, Ellie”, exclamou ele, atrapalhando as palavras em sua excitação, “o-lha que bo-nito ca-be-lo a-ma-re-lo.” “Esse bobalhão é seu amigo?”, indagou o homem alto.

“Benjy é meu irmão”, respondeu Ellie, com dificuldade.

“Pois então tire-o daqui. Ele está chateando a minha mulher”.

“Senhor”, disse Ellie, tomando coragem, “meu irmão não pretende fazer qualquer mal. Ele jamais tinha visto cabelos louros de perto antes”.

O rosto do homem franziu-se de raiva e perplexidade. “O quêêêê? disse ele, olhando para a mulher. “O que é que há com esses dois? Um é idiota e a outra…”

“Vocês não são os meninos Wakefield?”, interrompeu uma agradável voz feminina atrás de Ellie.

A atônita Ellie virou-se. A sra Murillo colocou-se entre os adolescentes e o casal. Ela e o marido tinham se aproximado tão logo ouviram as vozes se elevarem, “Sim, senhora”, disse Ellie, baixinho. “Somos, sim.”

“Quer dizer que esses são dois dos guris que vieram do espaço?”, perguntou o homem chamado Jason.

Ellie conseguiu puxar Benjy rapidamente para a porta da loja. “Desculpem”, disse Ellie, antes de sair com Benjy. “Não queríamos criar dificuldades.”

“Tarados!”, Ellie ouviu alguém dizer quando a porta se fechou atrás deles.


Fora outro dia exaustivo. Nicole estava mais do que cansada. Ficou defronte do espelho, acabando de lavar o rosto. “Ellie e Benjy tiveram alguma espécie de experiência desagradável na aldeia”, disse Richard do quarto. “Mas não quiseram me falar muito a respeito.”

Nicole passara treze longas horas naquele dia ajudando a processar os passageiros da Nina. Não importava o quanto ela e Kenji Watanabe e os outros trabalhassem”, parecia que ninguém jamais ficava satisfeito e sempre havia mais tarefas a serem executadas. Muitos dos novos colonos tinham sido abertamente petulantes quando Nicole tentou explicar-lhes os procedimentos estabelecidos pela AEI para distribuição de comida, casas e áreas de trabalho.

Havia vários dias que ela não dormia o suficiente. Nicole olhou para suas grandes olheiras. Mas nós temos de acabar esse grupo antes que a Santa Maria chegue, disse para si mesma; eles vão ser muito piores.

Nicole enxugou o rosto com a toalha e cruzou para o quarto de dormir, onde Richard estava sentado, de pijama. “Como foi o seu dia?”, perguntou ela.

“Nada mau… Até que bastante interessante… Aos poucos, mas com certeza, os engenheiros humanos começam a se sentir melhor lidando com os Einsteins.” Fez uma pausa. “Você ouviu o que eu disse sobre Ellie e Benjy?”

Nicole acenou com a cabeça. O tom da voz de Richard transmitiu-lhe a verdadeira mensagem. Apesar de seu cansaço, ela saiu do quarto e atravessou o hall.

Ellie já estava dormindo, porém Benjy ainda estava acordado no quarto que dividia com Patrick. Nicole sentou-se ao lado de Benjy e tomou-lhe a mão.

“O-lá, Ma-mãe”, disse o menino. “O tio Richard disse que você e Ellie foram à aldeia hoje à tarde”, disse Nicole a seu filho mais velho.

Uma expressão de dor marcou o rosto do menino por momentos, depois desapareceu. “Fo-mos, ma-mãe.”

“Ellie disse-me que vocês foram reconhecidos e que um dos colonos novos xingou vocês”, disse Patrick do outro lado do quarto.

“Foi mesmo, querido?”, perguntou Nicole a Benjy, sempre segurando e acariciando sua mão.

O menino fez um sinal afirmativo, quase imperceptível, com a cabeça e ficou em silêncio olhando para a mãe. “O que é um bo-ba-lhão, Mamãe?”, disse ele repentinamente, com os olhos rasos de lágrimas.

Nicole abraçou Benjy. “Alguém chamou você de bobalhão hoje?” perguntou ela suavemente.

Benjy concordou. “A palavra não tem um significado específico”, respondeu Nicole. “Qualquer um que seja diferente ou talvez inconveniente, poderia ser chamado de bobalhão.” Tornou a acarinhar Benjy. “As pessoas usam palavras como essa quando não pensam. Quem o chamou de bobalhão provavelmente estava confuso, ou perturbado por outros acontecimentos em sua vida, e só agrediu você porque não o compreendeu… Você fez alguma coisa que o incomodasse?”

“Não, ma-mãe, só disse que gos-ta-va do ca-be-lo ama-re-lo da mulher.”

Ao fim de alguns minutos, Nicole já tinha captado a essência do que acontecera na loja de porcelana. Depois que achou que Benjy já estava tranqüilo, Nicole cruzou o quarto para dar um beijo de boa noite em Patrick. “E você? Teve um bom dia, hoje?”

“A maior parte”, disse Patrick. “Só me aconteceu um desastre — no parque.” Tentou sorrir. “Uns meninos dos novos estavam jogando basquete e me convidaram para jogar com eles… e eu fui absolutamente horrível. Alguns deles riram de mim.”

Nicole deu um abraço longo e terno em Patrick. Patrick é forte, disse Nicole para si mesma depois de sair e dirigir-se a seu próprio quarto. Porém, até ele precisa de apoio. Respirou fundo. Será que estou agindo certo? perguntou-se ela pela enésima vez desde que se envolvera mais profundamente com todos os aspectos do planejamento da colônia. Sinto-me tão responsável por tudo aqui.

Quero que o Novo Éden comece da maneira certa… Mas meus filhos ainda precisam mais do meu tempo… Será que algum dia vou conseguir equilibrar tudo?

Richard ainda estava acordado quando Nicole se aninhou junto a ele, e ela contou ao marido o relato de Benjy. “Lamento não ter podido ajudá-lo”, disse Richard. “Há certas coisas que só a mãe…”

Nicole estava tão exausta que já começou a adormecer antes de Richard concluir a frase. Ele a segurou no braço com firmeza. “Nicole, há um assunto que precisamos discutir. Infelizmente, não pode esperar — nós talvez não tenhamos nenhum tempo só para nós dois de manhã.”

Ela se virou e olhou para Richard, intrigada. “É sobre Katie”, disse ele.

“Eu realmente preciso de sua ajuda… Vai haver outra noite de dança para os jovens se conhecerem amanhã — lembra-se de que na semana passada dissemos a Katie que ela poderia ir, mas só se Patrick fosse com ela e voltasse a uma hora razoável…? Pois bem, hoje à noite a vi por acaso defronte do espelho usando um vestido novo, curto e muito revelador. Quando perguntei sobre o vestido e disse que não era adequado só para uma dancinha aqui na vizinhança, ela teve um ataque de fúria. Ficou dizendo que eu a estava ‘espionando’ e me informou que eu era um caso perdido, ‘de uma ignorância sem esperanças’ a respeito de moda.”

“E o que você disse?”

“Eu a repreendi. Ela me lançou um olhar furioso, mas não disse nada. E alguns minutos mais tarde saiu de casa sem dizer uma palavra. As outras crianças e eu jantamos sem ela… Katie só voltou uma meia hora antes de você, cheirando a fumo e cerveja. Quando tentei falar com ela, só disse ‘Não me amole’ e foi para o quarto, batendo a porta.”

É o que eu sempre temi, pensou Nicole, deitada ao lado de Richard em silêncio. Os sinais sempre estiveram ali, desde pequena. Katie é brilhante, mas também é egoísta e impetuosa…

“Estive a ponto de dizer a Katie que ela não poderia ir à festa amanhã à noite”, estava dizendo Richard, “quando me dei conta de que segundo qualquer definição normal ela é uma adulta. Afinal, o cartão de registro dela na administração central diz que ela tem 24 anos. Não podemos tratá-la como criança.”

Mas emocionalmente ela tem uns catorze anos, pensou Nicole, estremecendo quando Richard começou a enumerar todos os problemas aparecidos em relação a Katie desde a chegada dos outros humanos a Rama.

Nada importa para ela senão aventura e excitação.

Nicole lembrou-se do dia que passara com Katie no hospital, na semana anterior à chegada dos passageiros da Nina. Katie ficara fascinada por todo o sofisticado equipamento médico, e verdadeiramente interessada em seu funcionamento; no entanto, quando Nicole sugeriu que ela pudesse querer trabalhar no hospital até a abertura da universidade, a jovem rira. “Está brincando?” dissera a filha. “Não consigo imaginar nada mais chato. Ainda mais quando haverá centenas de pessoas para se conhecer.”

Não há muito que Richard ou eu possamos fazer, refletiu Nicole, com um suspiro. Podemos sofrer por Katie, e oferecer-lhe nosso amor, porém ela já resolveu que todo o nosso conhecimento e toda a nossa experiência são irrelevantes.

O quarto ficou em silêncio. Nicole esticou-se para beijar Richard. “Falarei com Katie amanhã sobre o vestido, mas duvido que adiante muito.” Patrick estava sentado, sozinho, em uma cadeira de armar junto à parede do ginásio.

Tomou mais um gole de seu refrigerante e olhou o relógio, enquanto a música lenta acabava e a dúzia de pares que ainda dançavam finalmente parou. Katie e Olaf Larsen, um sueco alto cujo pai era da equipe do comandante MacMillan, trocaram um rápido beijo antes de caminharem, de braços dados, na direção de Patrick.

“Olaf e eu vamos lá fora para fumar um cigarro e tomar mais um uisquinho”, disse Katie quando chegou perto do irmão. “Por que não vem conosco?”

“Nós já estamos atrasados, Katie”, respondeu Patrick. “Dissemos que estaríamos em casa à meia-noite e meia.” O sueco deu um tapinha nas costas de Patrick. “Vamos lá, rapaz, relaxa.

Sua irmã e eu estamos nos divertindo.”

Olaf já estava bêbado. Seu rosto estava afogueado com a bebida e a dança.

Apontou para o outro lado da sala. “Está vendo aquela moça de cabelo vermelho, vestido branco, e uns peitões enormes? O nome dela é Beth e é superquente. Está esperando a noite inteira que você a tire para dançar. Quer quer eu o apresente?”

Patrick sacudiu a cabeça. “Olha, Katie, eu quero ir embora. Fiquei aí sentado, pacientemente…”

“Mais meia hora, irmãozinho”, interrompeu Katie. “Eu vou lá fora um instante e volto para umas duas danças. Depois nós vamos, OK?”

Ela beijou Patrick no rosto e dirigiu-se à porta com Olaf. O sistema de som do ginásio começou a tocar uma música rápida. Patrick ficou olhando fascinado para os jovens casais que se moviam segundo o forte ritmo. “Você não dança?”, perguntou-lhe um rapaz que passeava em volta da pista de dança.

“Não”, disse Patrick. “Nunca tentei.”

O rapaz lançou um olhar estranho para Patrick, depois parou e sorriu. “É claro, você é um dos Wakefields… Olá, meu nome é Brian Walsh. Sou de Wisconsin, no meio dos Estados Unidos. Meus pais é que estão aqui para organizar a universidade.”

Patrick não havia trocado mais de duas palavras com ninguém a não ser Katie desde que chegaram na festa havia várias horas. Apertou a mão de Brian alegremente e os dois conversaram amistosamente durante alguns minutos.

Brian, que estava no meio de seus estudos de graduação em engenharia de computadores quando a família foi escolhida para a Colônia Lowell, tinha 20 anos e era filho único. Estava, também, curiosíssimo a respeito das experiências de seu companheiro.

“Diga-me”, disse ele a Patrick, quando começaram a sentir-se mais à vontade um com o outro, “esse tal lugar chamado o Nodo existe mesmo? Ou é parte de alguma história de enganação inventada pela AEI?”

“Não”, disse Patrick, esquecendo-se de que não devia discutir esse tipo de coisa. “O Nodo está lá, mesmo. Meu pai acha que é uma estação de processamento extraterrestre.”

Brian deu uma boa risada. “Então, em algum ponto lá perto de Sirius há um triângulo gigantesco construído por uma espécie desconhecida? E seu objetivo é ajudá-los a estudar outras criaturas que viajam no espaço? Puxa! É a história mais fantástica que já ouvi. Na verdade, quase tudo que sua mãe nos contou naquela sessão aberta era inacreditável. Mas confesso que tanto a existência desta estação espacial quanto o nível tecnológico dos robôs tornam tudo mais plausível.”

“Tudo o que minha mãe disse é verdade”, disse Patrick. “E algumas das histórias mais extraordinárias foram deixadas de fora, de propósito. Por exemplo, minha mãe conversou uma vez com uma enguia de capa que falava por meio de borbulhas. E também…” Patrick parou, lembrando-se das advertências de Nicole.

Brian estava fascinado. “Uma enguia de capa? E como é que ela sabia o que é que a enguia estava dizendo?” Patrick olhou o relógio. “Desculpe, Brian”, disse abruptamente, “mas estou aqui com minha irmã e tenho de encontrar com ela…”

“É aquela com o vestido decotadíssimo?”

Patrick concordou com a cabeça. Brian passou o braço pelos ombros de seu novo amigo. “Deixe eu lhe dar um conselho. Alguém precisa conversar com a sua irmã. Do jeito que ela se comporta com todos esses caras, todos pensam que ela é uma trepada fácil.”

“Mas é o jeito de Katie”, disse Patrick na defensiva. “Ela nunca teve contato com ninguém a não ser a família.”

“Desculpe”, disse Brian, dando de ombros. “Afinal, não é da minha conta… Escuta, por que não me dá um toque, um dia desses? Gostei muito da nossa conversa.”

Patrick despediu-se de Brian e começou a caminhar para a porta. Onde estaria Katie? Por que não voltara para o ginásio?

Assim que saiu pela porta, ouviu risos altos. Katie estava parada no playground com três homens, um dos quais era Olaf Larsen. Estavam todos fumando e bebendo de uma garrafa que passava de um para outro.

“Então, qual é a posição que você gosta mais?”, perguntou um rapaz moreno, de bigodes.

“Ah, eu prefiro ficar em cima”, disse Katie, rindo e tomando mais um gole na garrafa. “Assim fico controlando a situação.”

“Parece bom”, respondeu o homem, cujo nome era Andrew. Ele deu uma risada discreta e colocou a mão sugestivamente no traseiro dela. Katie a empurrou, ainda rindo, e logo depois viu Patrick que se aproximava.

“Chega aqui, irmãozinho”, gritou Katie. “Esta merda que estamos bebendo é dinamite.”

Os três homens, que estavam bem perto de Katie, afastaram-se um pouco quando Patrick foi chegando. Embora ainda fosse magrelo e ainda tivesse muito o que encorpar, sua altura o tornava figura imponente, à meia-luz.

“Estou indo para casa agora, Katie”, disse Patrick recusando a garrafa ao chegar ao lado dela, “e creio que deva ir comigo”.

Andrew riu. “Grande garota de programa você arranjou, Larsen”, disse ele com sarcasmo, “que anda escoltada pelo irmão adolescente”.

Os olhos de Katie fuzilaram de raiva. Ela tomou outro gole e passou a garrafa para Olaf. Depois, agarrou Andrew e beijou-o com descontrolado exagero nos lábios, apertando seu corpo contra o dele.

Patrick ficou embaraçado. Olaf e o terceiro homem aplaudiram e assoviaram quando Andrew devolveu o beijo de Katie. Ao fim de quase um minuto, Katie afastou-se dele. “Agora vamos, Patrick”, disse ela com um sorriso, ainda fixando os olhos no homem que beijara. “Acho que já basta por uma noite.”

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