Thor monta nas costas de Mycoples, atravessando as nuvens, tão rápido que ele mal consegue respirar, enquanto ele avança em direção ao exército de dragões e se prepara para a batalha. O bracelete de Thor pulsa em seu antebraço, e ele sente que sua mãe o tinha presenteado com um novo poder que ele mal consegue compreender; é como se não houvesse uma linha entre o tempo e o espaço. Thor mal havia pensado em voltar, e mal tinha decolado das margens da Terra dos Druidas, e de repente ela já estava ali, acima das Ilhas Superiores, voando em direção ao exército de dragões. Thor tem a sensação de que tinha sido magicamente transportado até ali, como se tivesse viajado por uma fenda no tempo ou no espaço – como se sua mãe o tivesse enviado até ali, ou permitido que ele conseguisse realizar o impossível, voando mais rápido do que jamais havia feito antes. Ele sente que sua mãe o tinha presenteado com o dom da velocidade.
Quando Thor espia através da cobertura das nuvens, um imenso dragão aparece diante de sua visão, circulando as Ilhas Superiores e prestes a assoprar fogo sobre elas. Thor olha para baixo e seu coração se aperta ao ver que a ilha já está completamente tomada pelas chamas, praticamente destruída. Ele se pergunta com temor se alguém teria conseguido sobreviver ao ataque; e não vê como isso seria possível. Ele teria chegado tarde demais?
Mas assim que Mycoples mergulha, ao chegar mais perto, os olhos de Thor se concentram em uma única pessoa, que o atrai como um ímã à medida que ele a identifica no meio do caos. Gwendolyn.
Ali estava ela, sua noiva, em pé no meio do pátio, destemida como de costume, segurando um bebê e cercada por todas as pessoas que Thor mais ama, todos segurando seus escudos em direção ao céu para protegê-la do ataque dos dragões. Thor assiste horrorizado quando os dragões abrem suas grandes mandíbulas e se preparam para assoprar fogo que ele sabe, em apenas alguns instantes, mataria Gwendolyn e todas as pessoas que ele ama.
“MERGULHE!" Thor grita para Mycoples.
Mycoples não precisa de mais encorajamento: ela mergulha mais rápido do que Thor poderia imaginar, tão rápido que ele mal consegue respirar, e ele se segura firme, descendo quase verticalmente. Dentro de instantes, ela chega perto de três dragões que estão prestes a atacar Gwendolyn, e com um forte rugido sua mandíbula se abre e ela estende suas garras diante dela e ataca os dragões desavisados.
Mycoples se choca contra os dragões, impulsionada pela descida, caindo sobre eles ao mesmo tempo em que arranha um deles com suas enormes garras e morde outro – batendo no terceiro com suas asas. Ela chega até eles momentos antes que eles cuspissem fogo em Gwendolyn, empurrando-os de cara no chão.
Todos os dragões caem juntos, e uma grande nuvem de poeira se levanta; o impacto é tão forte que eles ficam presos no chão de terra, afundados com suas garras para cima. Quando eles aterrissam, Thor se vira e vê a expressão surpresa no rosto de Gwendolyn, e ele agradece a Deus por tê-la salvo a tempo.
Há um grande rugido, e Thor olha para o céu e vê um exército de dragões se aproximando.
Mycoples já está se virando e voando na direção deles, preparando-se para atacá-los sem demonstrar qualquer temor. Thor está desarmado, mas ele se sente diferente do que havia se sentido antes ao enfrentar uma batalha: pela primeira vez em sua vida, ele não sente a necessidade de usar armas. Ele sente que ele pode invocar e depender do poder que existe dentro dele mesmo. Seu verdadeiro poder. O poder que sua mãe havia despertado dentro dele.
À medida que eles se aproximam, Thor ergue seu pulso, mirando seu bracelete dourado na direção deles, e uma luz emana do diamante dourado no centro dele. Uma luz amarela envolve o dragão mais próximo deles, no meio do grupo, empurrando-o para trás pelo meio do ar, fazendo-o colidir com o resto dos dragões.
Mycoples, em um surto de raiva e determinada a se vingar, voa para o meio do exército de dragões, lutando e abrindo caminho através deles. Ela enfia suas presas no pescoço de um e arremessa outro para longe, enfrentando todos os dragões que cruzam a sua frente. Ela se agarra a um dragão até que seu corpo fica inerte, e então ela o deixa cair; ele despenca como uma enorme rocha até o chão e, ao encontrar o solo, faz a terra tremer. Thor pode ouvir o impacto de onde está, pois ele causa um pequeno terremoto.
Ele olha para baixo e vê Gwen e os outros correrem para o esconderijo, e percebe para onde deve guiar os dragões, para longe da ilha, longe de Gwendolyn, de forma a lhes dar uma chance de escapar. Se ele puder levar os dragões para o meio do mar, ele poderia atraí-los para longe e lutar com eles longe dali.
"Vamos para o mar aberto!" Thor grita.
Mycoples segue o seu comando, e eles se viram e voam através do grupo de dragões para o outro lado da ilha.
Thor olha para trás ao ouvir outro rugido, e sente o calor distante das chamas lançadas em sua direção. Ele fica satisfeito ao ver que seu plano está funcionando: todos os dragões estão abandonando as Ilhas Superiores, e começam a segui-lo para o alto mar. À distância, abaixo dele, Thor localiza a frota de Romulus cobrindo o oceano, e ele sabe que, se de alguma forma ele sobrevivesse aos dragões, ele ainda teria que enfrentar um exército de um milhão de homens. Ele sabe que provavelmente não sobreviveria à esse confronto. Mas, ao menos, ele conseguiria dar algum tempo para Gwendolyn e seus amigos.
Pelo menos Gwendolyn sobreviveria.
Gwen fica em pé no que ainda resta do pátio da antiga corte de Tirus, ainda com o bebê em seus braços, olhando para céu com espanto, alívio e tristeza ao mesmo tempo. Seu coração se enche de alegria por ter visto Thor mais uma vez, o amor de sua vida, vivo, de volta para ela – e com Mycoples ainda por cima. Com ele ali, ela sente que uma parte dela havia sido restaurada, e ela sente como se tudo fosse possível mais uma vez. Ela sente algo que ela já não sentia há muito tempo: a vontade viver novamente.
Seus homens lentamente baixam seus escudos enquanto observam os dragões se afastando, finalmente deixando as ilhas, voltando para o alto mar. Gwen olha ao seu redor e vê a devastação que eles haviam deixado para trás, grandes pilhas de destroços, chamas por todos os lados, e dragões mortos deitados pelo pátio. É como se a Ilha tivesse sido destruída por uma guerra.
Gwen também vê o que devem ter sido os pais do bebê, dois corpos deitados próximos dali, ao lado do local onde Gwen a havia encontrado. Ela olha dentro dos olhos da criança e percebe que ela é provavelmente tudo o que lhe resta no mundo. Gwen a abraça com força.
"Essa é nossa chance, minha senhora!" Kendrick diz. "Devemos evacuar imediatamente!"
"OS dragões estão distraídos," completa Godfrey. "Pelo menos por agora. Sabe-se lá quando eles vão voltar. Devemos sair daqui imediatamente."
"Mas o Anel já não existe," comenta Aberthol. "Para onde iríamos?"
"Qualquer lugar, menor aqui," responde Kendrick.
Gwen ouve essas palavras, mas elas estão muito distantes em sua mente; em vez disso, ela olha para o céu e observa Thor voando na distância, com seu coração cheio de saudade.
"E o que me dizem de Thorgrin?" ela questiona. "Devemos simplesmente deixá-lo, sozinho aqui?"
Kendrick e os demais se contorcem, seus rostos comunicando sua decepção. Obviamente, a ideia também os perturba.
"Lutaríamos com Thorgrin até a morte se pudéssemos, minha senhora," Reece fala. "Mas não podemos. Ele está no céu, acima do oceano, muito longe daqui. Nenhum de nós possui um dragão. Nem mesmo um poder igual ao dele. Não podemos ajudá-lo. Agora devemos ajudar aqueles que podemos ajudar. É para isso que Thor se sacrificou. É para isso que Thor dedicou sua vida. Devemos usar a oportunidade que ele nos deu."
"O que ainda resta de nossa frota está do outro lado da ilha," continua Srog. "Foi muito sábio de sua parte esconder aqueles navios. Agora devemos usá-los. Devemos reunir os sobreviventes, e deixar esse lugar imediatamente – antes que eles voltem."
A mente de Gwendolyn fervilha com emoções conflitantes. Ela gostaria muito de ir salvar Thor; mas ao mesmo tempo, ela sabe que, esperar ali com todas aquelas pessoas, não seria nada bom. Os outros tinham razão: Thor havia colocado sua vida em risco para a segurança deles. Suas ações teriam sido em vão se ela não tentasse salvar aquelas pessoas enquanto pudesse.
E outro pensamento invade a mente de Gwen. Guwayne. Se eles partissem agora, e se apressassem para o mar aberto, talvez ainda pudessem encontrá-lo. E a ideia de rever seu filho a enche de esperança e vontade de viver novamente.
Finalmente, Gwen assente, segurando o bebê e se preparando para partir.
"Muito bem," ela responde. "Vamos encontrar meu filho."
O rugido dos dragões fica cada vez alto atrás de Thor à medida que os dragões se aproximam, seguindo-os enquanto ele e Mycoples voam cada vez mais longe das Ilhas Superiores, sobrevoando o oceano. Thor sente uma onda de fogo se aproximando de suas costas, prestes a envolvê-lo, e sabe se que não fizer algo logo, ele morrerá em breve.
Ele fecha os olhos, sem medo de invocar o poder dentro dele, sem sentir mais a necessidade de depender de qualquer arma ou poder físico. Ao fechar os olhos, ele se lembra do tempo que havia passado na Terra dos Druidas, e do poder que havia tido então, do quanto havia sido capaz de influenciar tudo à sua volta com o poder de sua mente. Ele se lembra do poder que existe dentro dele, de como o universo é apenas uma extensão da mente dele.
Thor força seu poder a vir à superfície, e imagina uma grande parede de gelo atrás dele, protegendo-o do fogo que vem em sua direção. Ele se imagina completamente coberto por um escudo de gelo – ele e Mycoples, protegidos da parede de fogo dos dragões.
Thor abre os olhos e se surpreende ao sentir frio, e ver uma tremenda parede de gelo à sua volta, exatamente da forma como havia imaginado, com um metro de espessura e azul resplandescente. Ele olha para trás e vê as chamas dos dragões se aproximarem – e serem interrompidas pela parede de gelo, liberando vapor ao encostarem em seu escudo protetor. Os dragões ficam irados.
Thor circula quando a parede de gelo derrete, e decide enfrentar o exército de dragões de frente. Mycoples voa na direção deles destemidamente – e os dragões obviamente não esperavam por esse tipo de ataque.
Mycoples salta para a frente, estende suas garras e agarra um dos dragões pelas mandibulas, girando e arremessando-o para o lado; o dragão vai girando descontroladamente e vai no oceano abaixo deles.
Antes que ela possa se se reagrupar, Mycoples é atacada por outro dragão, que fecha suas mandíbulas na lateral de seu corpo. Ela grita, e Thor reage imediatamente. Ele salta para fora dela, pula em cima do nariz do dragão, corre pela cabeça dele e rapidamente monta em suas costas. O dragão não solta Mycoples, e se contorce tentando se livrar de Thor, que se agarra com força enquanto tenta controlar o dragão hostil.
Ao mesmo tempo, Mycoples morde a cauda de outro dragão, arrancando-a com sua forte mordida. O dragão grita e cai no mar – mas logo vários outros dragões partem para cima de Mycoples, que fecham suas mandibulas em suas patas.
Thor, enquanto isso, ainda se segura ao dragão, determinado a controlá-lo. Ele se força a permanecer calmo e a se lembrar que o segredo de tudo estava na mente dele. Ele pode sentir o tremendo poder daquele besta primitiva e antiga correndo por suas veias. E ao fechar seus olhos, ele para de resistir, e começa a se sentir em sintonia com a fera. Ele sente o coração do animal. seu pulso e sua mente. E lentamente se torna uma só criatura com a fera.
Thor abre os olhos, e o dragão também abre os dele, que agora brilham com uma cor diferente. Thor vê o mundo através dos olhos do dragão. Aquele dragão – aquela besta hostil, havia se tornado uma extensão de Thor. O que ele via, Thor também via. Thor comandava – e ele obedecia.
O dragão, a um comando de Thor, solta Mycoples; então ele dá um rugido e avança, enfiando suas presas nos três dragões que atacavam Mycoples, partindo-os em pedaços.
Os outros dragões não esperavam por isso; antes que eles possam se reorganizar, Thor ataca meia dúzia deles usando seu novo dragão para morder seus pescoços, pegando-os desprevenidos e mutilando um dragão após o outro. Thor parte para cima de mais três dragões e faz com que o dragão morda suas asas, arrancando-as de seus corpos e derrubando os dragões que despencam como pedras até o mar.
De repente, Thor é surpreendido por um ataque lateral; o dragão abre sua mandíbula e enfia suas presas em Thor.
Ele dá um grito quando uma longa presa perfura suas costelas e o derruba de cima de seu dragão, fazendo com que ele caia pelo ar. Ele se vê despencando em direção ao mar, ferido, e percebe que está prestes a morrer.
Pelo canto do olho, Thor vê Mycoples mergulhando abaixo dele – e quando ele menos espera, ele aterrissa em cima das costas dela, salvo pela sua velha amiga. Os dois estão juntos novamente, ambos feridos.
Thor, respirando com dificuldade, com a mão em sua ferida, analisa os danos que eles haviam causado: uma dúzia de dragões estão mortos ou mutilados, boiando no oceano abaixo deles. Eles tinham se saído bem, apenas os dois, bem melhor do que ele havia imaginado.
Ainda assim, Thor ouve um rugido terrível e, ao olhar para cima vê que ainda restam várias dezenas de dragões. Ofegante, Thor sabe que aquela tinha sido uma luta valente, mas que suas chances que vitória eram bem pequenas. De qualquer forma, ele não hesita; ele voa destemidamente para cima, correndo para enfrentar os dragões que os desafiam.
Mycoples grita e assopra fogo quando eles lançam chamas na direção de Thor. Thor mais uma vez usa seus poderes para lançar uma parede de gelo ao redor deles, impedindo que as chamas dos dragões os alcancem. Ele se segura a Mycoples quando ela enfrenta o grupo, mordendo e arranhando enquanto luta por sua vida. Mycoples sofre alguns ferimentos, mas não permite que isso diminua seu ritmo, ferindo dragões em todas as direções. Thor junta-se à ela, erguendo seu bracelete e mirando de dragão em dragão; ele lança um feixe de luz branca e joga os dragões para longe de Mycoples enquanto ela luta.
Thor e Mycoples continuam lutando, ambos cobertos de feridas, sangrando e absolutamente exaustos.
Mesmo assim, ainda restam dezenas de dragões.
Ao erguer o bracelete novamente, ele sente o poder dele se esgotando – na verdade, ele sente seu próprio poder se esgotando. Thor é poderoso, ele sabe disso, mas não é poderoso o suficiente ainda; ele sabe que não seria capaz de resistir a essa luta até o fim.
Thor olha para cima vê grandes asas diante de seu rosto, seguidas de garras afiadas, e assiste impotentemente quando elas perfuram o pescoço de Mycoples. Thor segura firme quando o dragão agarra Mycoples e então fecha suas mandíbulas em sua cauda e a arremessa para longe.
Os dois são jogados pelo ar, dando cambalhotas enquanto despencam descontroladamente em direção ao oceano.
Eles caem na água e Thor continua segurando quando ambos mergulham abaixo da superfície. Thor se movimenta debaixo d'água, até que finalmente eles param de afundar. Mycoples se vira e começa a nadar para cima, na direção da luz do sol.
Ao emergirem, Thor respira fundo, lutando por ar, nadando pelas águas frias enquanto ainda se segura firme em Mycoples. Os dois flutuam na água, e ao fazerem isso, Thor olha para o lado e vê algo que ele jamais conseguiria esquecer: flutuando próximo a eles, com os olhos abertos, morto, está um dragão que ele havia aprendido a amar: Ralibar.
Mycoples o vê ao mesmo temo, e assim que ela o identifica, algo toma conta dela, algo que Thor nunca tinha visto antes: ela dá um grito de tristeza e dor e ergue suas asas bem no alto, estendendo-as completamente. Todo seu corpo treme enquanto ela solta um rugido terrível, que faz tremer todo o universo. Thor vê uma transformação em seus olhos, que brilham com cores diferentes, até finalmente cintilarem em amarelo e branco.
Mycoples vira, um dragão transformado, e olha para o exército de dragões que se aproxima deles. Algo dentro dela, Thor percebe, havia mudado. Seu luto havia se transformado em ódio, e havia lhe dado uma força diferente de tudo que Thor já tinha visto. Ela agora era um dragão possuído.
Mycoples voa a toda velocidade, com seus ferimentos sangrando – mas sem se importar. Thor também sente uma nova descarga de energia, e uma sede de vingança. Ralibar tinha sido um amigo muito próximo, havia sacrificado sua vida por todos eles, e Thor está determinado e corrigir aquele erro.
Enquanto avançam na direção dos dragões, Thor salta das costas de Mycoples para cima do focinho dragão mais próximo, ao mesmo tempo em que abraça suas mandíbulas para impedi-lo de abri-las. Thor invoca o poder que ainda lhe resta, e gira o dragão no ar, arremessando-o com toda a sua força. O dragão sai voando, levando mais dois dragões com ele, e os três dragões caem no oceano abaixo deles.
Mycoples vira no ar e pega Thor enquanto ele cai, e ele aterrissa em suas costas enquanto eles continuam avançando na direção dos dragões que ainda restam. Ela enfrenta cada rugido deles com seu próprio rugido, mordendo com mais força, voando mais rápido e cortando mais profundamente que eles. Quanto mais eles a machucam, menos ela parece se importar. Ela é um furacão de destruição – assim como Thor, e quando ambos terminam, Thor percebe que não resta um único dragão voando no céu para enfrentá-los: todos tinham sido derrubados dali de cima até o mar, mutilados ou simplesmente mortos.
Thor se vê voando sozinho com Mycoples, circulando os dragões mortos enquanto avalia o dano causado. Os dois respiram com dificuldade, sangrando muito. Ele sabe que Mycoples está dando seus últimos suspiros – ele vê sangue saindo pela sua boca, e percebe que ela respira com extrema dificuldade, sentindo uma dor mortal.
"Não, minha amiga," Thor diz, tentando conter suas lágrimas. "Você não pode morrer."
A minha hora chegou, Thor a houve dizer. Pelo menos, terei morrido com dignidade.
"Não," insiste Thor. "Você não pode morrer!"
Mycoples cospe sangue, e o bater de suas asas se torna mais fraco e eles começam a descer em direção ao oceano.
Ainda resta uma última luta em mim, Mycoples diz. E eu quero que meus últimos momentos sejam uma demonstração de coragem.
Mycoples olha para a frente, e Thor segue a direção de seu olhar e vê a frota de Romulus se espalhando até o horizonte.
Thor assente com uma expressão séria no rosto. Ele sabe o que Mycoples quer fazer. Ela deseja encontrar sua morte em uma última batalha.
Thor, ferido gravemente, respirando com dificuldade e sentindo como se ele próprio talvez não fosse sair vivo daquele confronto, deseja morrer daquela maneira também. Ele se pergunta se as profecias de sua mãe seriam mesmo verdade. Ela havia dito que ele poderia alterar seu próprio destino. Ele teria feito isso? Thor se pergunta. Ele morreria ali, agora?
"Então vamos nessa, amiga," Thorgrin diz.
Mycoples dá um grito com raiva e, juntos, os dois mergulham em direção à frota de Romulus.
Thor sente o vento e as nuvens passando por seus cabelos e pelo seu rosto e também solta um grande grito de batalha. Mycoples ruge para se igualar à sua raiva e eles mergulham ainda mais; ela abre suas grande mandíbulas e assopra fogo sobre a frota de Romulus.
Logo, uma parede de fogo se esparrama pelo oceano, incendiando um navio após o outro. Dezenas de milhares de navios estão diante deles, mas Mycoples não desanima, abrindo sua mandíbula e assoprando fogo sem desistir. As chamas se espalham como se fossem uma parede contínua, e os gritos dos homens preenchem o ar.
O fogo de Mycoples começa a enfraquecer e, logo nenhum fogo sai quando ela assopra. Thor sabe que ela está morrendo diante de seus olhos. Ela voa cada vez mais baixo, fraca demais para cuspir fogo. Mas ela ainda não está fraca demais para usar seu corpo como uma arma, e em vez de assoprar fogo, ela abaixa até os níveis dos navios mirando suas escamas enrijecidas para cima deles, como um meteoro caindo do céu.
Thor se prepara para o impacto e se segura com toda a sua força enquanto ela mergulha direto para cima dos navios, e o som de madeira se partindo preenche o ar. Ela atravessa diversos navios, um depois do outro, indo e voltando enquanto destrói vários navios, Thor se segura ao mesmo tempo em que pedaços de madeira voam ao seu redor vindos de todas as direções.
Finalmente, Mycoples não consegue mais seguir em frente. Ela para no meio da frota, flutuando na água, depois de ter destruído muitos navios, mas ainda cercada por milhares deles. Thor continua montado nela enquanto ela flutua, respirando suavemente,
Os navios que ainda restam se voltam na direção deles. Logo o céu se escurece, e Thor ouve um zumbido. Ele olha para cima e vê uma chuva de flechas se aproximando deles. De repente, ele é invadido por uma dor alucinante ao ser perfurado por dezenas de flechas sem ter onde se esconder. Mycoples também é ferida pelas flechas, e ambos começas a afundar nas ondas, dois grandes heróis que acabavam de lutar a maior batalha de suas vidas. Eles havia destruído os dragões e grande parte da frota do Império. Eles tinham feito mais do que um exército inteiro tinha sido capaz de fazer.
Mas agora não lhes restava qualquer alternativa, eles poderiam morrer. Enquanto Thor é ferido por flecha após flecha, afundando cada vez mais, ele sabe que não lhe resta mais nada a fazer a não ser se preparar para morrer.